Maradona iniciou a carreira no Argentinos Juniors (Foto: Reprodução)

Histórias curiosas não faltam sobre a carreira de Diego Maradona, que morreu nesta quarta-feira, aos 60 anos, em Buenos Aires, vítima de parada cardiorrespiratória. Um episódio bastante difundido é sobre uma suposta recusa do Cruzeiro à sua contratação, na década de 1970, quando o craque despontava no Argentinos Juniors.



Aos 81 anos, o supervisor administrativo Benecy Queiroz garante que a possibilidade existiu na época em que Ilton Chaves era o treinador. Segundo ele, um empresário chamado Jorge Gutman intermediou os contatos. Contudo, o presidente Felício Brandi não colocou muita fé em Maradona e vetou a negociação.

“Na época, a gente tinha excursão. Os clubes antigamente faziam excursões entre 30 a 40 dias. Nós estávamos na Argentina, e o nosso empresário na época, o Jorge Gutman, ofereceu o Maradona no início da carreira dele. Nós fomos assistir a um jogo dele. Eu, Ilton Chaves (...). O Ilton gostou muito, aprovou muito. E, na volta, ligamos pro Felício. O Felício achou que não seria interessante acompanhar o restante da excursão”, contou ao Superesportes.

“O Cruzeiro tinha um super time, né? Piazza, Dirceu, Zé Carlos, né? Talvez, o Felício entendeu que não pudesse dar tanta chance assim. Mas é um jogador que foi, na época, no início da carreira dele, muito impressionante. Deixou, realmente, todo mundo impressionado. E deu no que deu: um craque excepcional, melhor do mundo. Tivemos esse privilégio de assistir a esse craque”, complementou o funcionário, que trabalha no departamento de futebol da Raposa há quase meio século.




Os atletas mencionados por Benecy foram treinados por Ilton Chaves no Cruzeiro de 1970 a 1971 e entre 1972 e 1975. Ou seja, Maradona teria entre nove e 14 anos e ainda estaria nas categorias de base do Argentinos Juniors. Nesse intervalo, houve uma excursão do clube à Argentina, em 1971, mas com Orlando Fantoni como técnico. A Raposa também disputou partidas pela Libertadores de 1975 sob o comando de Ilton Chaves.

Sem a hipotética transferência para a Raposa, Maradona deu sequência à carreira no Argentinos Juniors. Em 20 de outubro de 1976, estreou aos 15 anos, com a camisa 16, entrando no lugar de Rubén Giacobetti em jogo contra o Talleres pelo Campeonato Argentino. El Pibe não conseguiu evitar a derrota por 1 a 0, mas logo no primeiro lance aplicou uma caneta em Juan Cabrera e levou os 7.700 torcedores ao delírio no estádio. Posteriormente, tornou-se o maior ídolo do clube ao marcar 116 gols em 166 jogos oficiais.

Maradona pelo Boca Juniors (Foto: Reprodução)


Maradona se encantou por futebol de Charles


Contratado pelo Boca Juniors em 1981, Maradona rapidamente rumou à Europa, onde brilhou por Barcelona, Napoli e Sevilla. Em 1986, protagonizou a campanha da Argentina campeã mundial, no México, com o gol mais bonito do futebol ao driblar seis adversários e a histórica "Mano de Dios" na vitória por 2 a 1 sobre a Inglaterra, no estádio Azteca, pelas quartas de final.



Em 1991, já em decadência pelo vício em cocaína, Diego cumpriu suspensão por doping e ficou afastado do futebol. Nesse período, encantou-se com o futebol do atacante Charles, campeão da Supercopa da Libertadores pelo Cruzeiro, e investiu US$ 1,25 milhão do próprio bolso em sua aquisição para o clube do coração, o Boca Juniors.

Charles se destacou pelo Cruzeiro na final da Supercopa de 1991, diante do River Plate, e chamou a atenção de Diego Armando Maradona (Foto: Arquivo EM)


Maradona gostou de Charles em função da vitória celeste sobre o River Plate na decisão da Supercopa. O negócio só foi fechado durante a disputa da Copa Master, em 1992, extinto torneio que contou com as participações de Racing, Boca, Cruzeiro e Olimpia.

“Os argentinos chegaram ao hotel onde o Cruzeiro estava hospedado, o Benecy Queiroz me ligou no quarto e falou ‘o pessoal do Maradona está aqui querendo que você desça para acertar, eles querem contratar você’. Meu companheiro de quarto na época era o Zé Carlos, goleiro, que Deus o tenha, e eu comentei com ele ‘o Benecy está tirando onda com a minha cara, falando que vai me vender para o Maradona’. Passou dez minutos e o Benecy me ligou de novo, pedindo para eu descer porque os caras estavam esperando. Eu nem acreditei, só acreditei quando vi o Maradona”, contou Charles, em entrevista ao Superesportes publicada em 18 de novembro de 2011.



Time do Cruzeiro campeão da Supercopa de 1991; Charles agachado, ao centro (Foto: Arquivo EM/DA Press)


Charles não se adaptou à Argentina e retornou ao Brasil para jogar pelo Grêmio, em 1993. Já Maradona deu sequência ao afastamento por doping e quase não entrou em campo durante mais de quatro anos. Em 23 de outubro de 1997, criou-se a expectativa para que ele viesse a Belo Horizonte defender o Boca contra o Cruzeiro, pela fase de grupos da Supercopa, mas o eterno camisa 10 foi preservado para o clássico contra o River Plate, dois dias depois, naquele que seria seu último jogo oficial da carreira.