Casa de Gilvan de Pinho Tavares foi pichada nesta sexta-feira (Foto: Reprodução)

A residência de Gilvan de Pinho Tavares, ex-presidente do Cruzeiro, foi atacada com bomba e pichada na madrugada desta sexta-feira. A vizinhança ficou assustada com o movimento violento. O ex-dirigente disse que vai encaminhar as imagens do sistema de segurança para a Polícia Militar.



 
"Todo mundo ficou apavorado. Jogaram bomba, quebrou telha. Agora, a vizinhança deve contratar uma vigilância para fazer a segurança. Foi tudo gravado pelas câmeras de segurança. Nós comunicamos a Polícia Militar, as imagens são muito nítidas. Isso não pode ficar impune. Estão colocando a vida de pessoas em risco", disse o ex-presidente do Cruzeiro, ao Superesportes.

Gilvan acredita que essa ação foi motivada pela crise do clube e pelas críticas do presidente Sérgio Santos Rodrigues a gestões anteriores, em live nesta quinta-feira. "Provavelmente, foi a fala do Sérgio que motivou essa reação da torcida. Estão tentando encontrar um culpado para tudo de ruim que está acontecendo com o Cruzeiro, mas essa culpa não é minha. Decepção total com a torcida e com o que os dirigentes estão falando de mim".

Gilvan administrou o Cruzeiro de 2012 a 2017. Apesar do bicampeonato brasileiro (2013-2014) e dos títulos da Copa do Brasil de 2017 e do Campeonato Mineiro de 2014, ele deixou o clube com crescente endividamento. Somente na Fifa, o clube enfrenta várias ações, com cobranças que, somadas, atingiam R$ 50 milhões.




O ex-presidente disse que os débitos na Fifa seriam resolvidos com a venda de Arrascaeta ao Flamengo em 2019. A Raposa recebeu pelo negócio cerca de 13 milhões de euros (R$ 55,2 milhões). Apesar disso, Wagner Pires de Sá não quitou os débitos.

"Eu também recebi o Cruzeiro com dívidas. Quase caímos para a Segunda Divisão em 2011. Eu peguei o clube porque o presidente (Zezé Perrella) estava deslumbrado em Brasília com o cargo de senador que herdou com a morte de Itamar Franco. Salvamos o Cruzeiro na última rodada com a goleada por 6 a 1 sobre nosso rival. Depois, conseguimos títulos importantes, como o bicampeonato brasileiro (2013 e 2014) e a Copa do Brasil (2017). A Copa do Brasil vencida pelo Wagner (2018) foi com o nosso elenco. Contrataram muitos jogadores, endividaram ainda mais o clube, mas a base campeã foi a que deixamos", disse Gilvan.

"Em 2019, venderam o Arrascaeta. Por que não pagaram as dívidas com esse dinheiro? Eu também tive que vender o Montillo em 2013 para pagar dívidas", acrescentou.



Dívida com o Zorya


Gilvan disse que até tentou pagar a dívida por Willian com o Zorya, da Ucrânia. A diretoria negociou a contratação do jogador junto ao Metalist Kharkiv. O então presidente do Metalist, o bilionário Sergey Kurchenko, dono de uma companhia de gás natural, fugiu para a Inglaterra durante guerra civil no leste da Ucrânia em 2014. 

Segundo a versão do ex-presidente do Cruzeiro, o empresário chegou a pedir para a Raposa depositar o dinheiro em uma conta de um empresário na Inglaterra, mas o clube não aceitou. O crédito da venda de Willian ficou com o Zorya, clube pelo qual o atacante nunca jogou.

"O Willian veio emprestado e ficamos com ele em definitivo. Houve uma guerra na Ucrânia, o time do Willian praticamente acabou, o presidente foi expulso do país. A gente estava pagando parcelado, mas como houve toda essa confusão, o presidente nos procurou através de um empresário para depositar o dinheiro em uma conta de um terceiro na Inglaterra. Falei que a gente não poderia fazer isso. E a dívida foi para a Fifa", disse Gilvan.




Na gestão de Sérgio Santos Rodrigues, o Cruzeiro pagou quase R$ 11 milhões ao Zorya, da Ucrânia. A Raposa, contudo, ainda deve uma parcela. Por isso, não pode registrar jogadores em função de uma sanção da Fifa. O clube celeste ainda iniciou a Série B com menos seis pontos por não ter pago o empréstimo do volante Denilson ao Al Wahda, dos Emirados Árabes, em 2016, no valor de 850 mil euros (cerca de R$ 5,5 milhões). Essa dívida também é da gestão Gilvan de Pinho Tavares.

Momento do Cruzeiro

 
Gilvan disse que tem que ser feito um trabalho psicológico com os jogadores em busca de uma reação na Série B. "Acho que tem que mexer com o psicológico. Lógico que não é um time ideal, mas é melhor que a maioria desses outros times da Série B. Noto os jogadores com receio e medo, sem a personalidade necessária para liderar o Cruzeiro nesta fase. No jogo contra o Sampaio, a bola sobrou para o Thiago fazer o gol e ele não conseguiu. Só essa fraqueza psicológica explica isso", disse.

O Cruzeiro embarca nesta sexta-feira para Atibaia, no interior de São Paulo, onde tentará fechar o elenco e trabalhar a parte motivacional dos atletas.




"Situação extremamente delicada. Cair para Série C vai ser o supra sumo das coisas ruins. Mas tem que lutar, arregaçar as mangas, fazer palestras de motivação. Fiz em 2011, palestra toda semana, jogadores saíram do marasmo e conseguimos os resultados", afirmou Gilvan.

Arrependimento

Gilvan apoiou Wagner em eleição do Cruzeiro (Foto: Reprodução)


Gilvan se diz arrependido de ter apoiado Wagner Pires de Sá em eleição em 2017. "Eu relutei até a última hora, mas uma das condições para o apoio era de não trazer o Itair. O Wagner deu a palavra para vários conselheiros, inclusive para o Pedro, do Supermercados BH. Eles acabaram (Wagner Pires de Sá, Serginho e Itair Machado) com o Cruzeiro".

"Tenho um arrependimento muito grande disso. Depois de uma gestão vitoriosa, o Wagner não honrou com a palavra de fazer uma administração que pagasse as dívidas e desse o prosseguimento no futebol. Quando deixei o clube, não tinha dívida de curto prazo. Eles tiveram tempo para planejar e pagar tudo".