Série revela como ex-presidente utilizou cartões corporativos (Foto: Superesportes)

O Cruzeiro venceu o Campeonato Mineiro de 2018 em 8 de abril. Foi o primeiro título da administração de Wagner Pires de . Um mês depois, no início de maio, o ex-presidente seguiu para a Europa e desembarcou em Portugal. Informações que circularam no clube na época indicavam que Pires de Sá tentaria, no Velho Continente, ao lado de seu então diretor-geral, Sérgio Nonato, negociar um empréstimo milionário ao clube celeste - o que acabou não saindo do papel após uma série de tentativas.




Embora não tenha conseguido encher os cofres do Cruzeiro, Wagner deixou em Portugal mais de R$ 15 mil do caixa celeste. Usando o cartão corporativo, o ex-presidente gastou, conforme mostram documentos obtidos pelo Superesportes, R$ 15.842 com dois hotéis diferentes, espaço de ‘dança e bebida’, loja de departamento e restaurantes. O montante não considera o valor das passagens. A cotação do euro naquela época era de cerca de R$4,30.

Solar dos Presuntos recebeu 'comitiva' de Wagner para noite farta em Lisboa (Foto: Reprodução/Triadvisor)


A hospedagem escolhida foi o tradicional Hotel Sheraton, em Lisboa. Pelas diárias, o ex-presidente pagou R$ 8.273. Há na fatura correspondente ao mês de maio, o pagamento de um outro hotel. Com unidades em várias cidades de Portugal e no Brasil, a rede ‘Dom Pedro’ recebeu R$ 942 da Raposa por hospedagens naquele mês. O valor somado das estadias é de R$ 9.215.

O que mais chama atenção sobre os gastos desta viagem, no entanto, é uma compra na El Corte Inglés, loja de departamento um pouco mais sofisiticada, que reúne marcas de todo mundo. No local, Wagner passou o cartão corporativo do Cruzeiro para comprar R$ 1.866 em produtos. A título de exemplificação, com esse valor, o ex-presidente pode ter comprado na loja dez camisas sociais de marca luxuosa, vendidas a cerca de 40 euros.




Famoso ponto gastronômico de Lisboa, o renomado Solar dos Presuntos também recebeu Pires de Sá em maio de 2018. A fatura do cartão de crédito do Cruzeiro mostra que o ex-presidente gastou, em uma só noite, R$ 1.173 no local. Esse é o restaurante preferido do técnico do Flamengo, o português Jorge Jesus. 

Há um registro ainda mais suntuoso em relação a estabelecimentos semelhantes. Em Bónusmelândia Unipessoal - razão social de local que, segundo auditoria, indica ser de dança e drinks - Wagner desembolsou R$ 2.797. Outros bares e restaurantes (R$ 344) e compras no freeshop (R$ 447) complementam os registros de gastos de Wagner Pires de Sá durante a viagem a Portugal. 

Outro lado


Por meio de nota, divulgada no fim da manhã desta sexta-feira, Wagner Pires de Sá afirmou que não vê ‘absurdos financeiros’ nas contas do Cruzeiro e que cartões corporativos eram utilizados por sua gestão para cobrir despesas de dirigentes enquanto 'personalidades públicas'. 




“Não vejo aí nenhum absurdo financeiro, mas sim, a eminente intenção de determinadas pessoas, que mais uma vez, fazendo uso de métodos baixos e rasteiros buscam denegrir a minha imagem pessoal com nítido intuito político e a clarividente intenção de cobrir com uma cortina de fumaça os reais problemas pelos quais vem perpassando o Cruzeiro por total incompetência em solucioná-los”. 
Clique aqui para ler todo o posicionamento do ex-presidente.

Investigações


Não há, no Estatuto ou no código de conduta do clube - os dois únicos documentos disponíveis no site oficial -, quaisquer artigos ou parágrafos que tratem exclusivamente da ‘regulação’ do cartão de crédito corporativo. Em geral, no entanto, ele deveria ser utilizado especialmente por supervisores de futebol e por responsáveis pelo departamento financeiro para pagamentos relativos ao dia-a-dia do clube.  

Atrás das grades de um dos campos da Toca II, Wagner acompanha treinamento do Cruzeiro em foto de 2019 (Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)

As faturas do cartão de crédito de Wagner já estão com a Kroll, empresa de investigação corporativa contratada pelo Cruzeiro para auditar cada passo da antiga administração do clube. 

Internamente, o Cruzeiro acredita que poderá cobrar dos ex-dirigentes reembolsos pelos valores que foram gastos por meio dos cartões corporativos. Esse, no entanto, é um processo burocrático e sem prazo para desfecho. 




Esta reportagem é a quarta de uma série que revela, de forma ainda mais profunda, como os ex-dirigentes do Cruzeiro utilizaram de forma desregrada as receitas do clube, que atravessa a maior crise financeira/institucional de sua história e disputará, em 2020, aos 99 anos, sua primeira Série B do Campeonato Brasileiro.

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