Ex-presidente do Ipatinga, Itair Machado, de 46 anos, chegou ao Cruzeiro em janeiro como homem forte do futebol na gestão de Wagner Pires de Sá e conviveu com a desconfiança da torcida. Passados dez meses, o cenário mudou. O dirigente goza de bom relacionamento com Mano Menezes, tem o elenco cheio de estrelas nas mãos e ganhou a simpatia dos cruzeirenses graças aos títulos do Campeonato Mineiro, da Copa do Brasil e de posicionamentos firmes. Aprovado em 2018, seu primeiro teste de fogo, ele agora traça os planos para o clube alçar voos maiores no próximo ano. De novo, o calendário terá Estadual, Copa do Brasil, Copa Libertadores e Campeonato Brasileiro. Quais serão as prioridades?
Em longa entrevista ao Superesportes e ao Estado de Minas, Itair Machado revelou os planos para 2019 e a pretensão de transformar o Cruzeiro em uma “máquina” de conquistar em seis anos. Isso, claro, se a gestão atual se consolidar na presidência. Entre as ambições de curto, médio e longo prazo estão o tri da Libertadores, o hepta da Copa do Brasil, o penta Brasileiro, a construção de uma nova Toca da Raposa para abrigar profissionais e categorias de base, além da equação das dívidas totais, hoje na ordem de R$ 400 milhões.
Para o torcedor já ansioso por mudanças no elenco e contratações, Itair adiantou alguns nomes no mercado que agradam à direção e à comissão técnica. Ele também falou da pretensão de ampliar os vínculos de Mano Menezes e das principais estrelas do grupo. As mexidas no elenco serão pontuais e funcionarão, a princípio, à base de trocas. O prêmio milionário da Copa do Brasil, por exemplo, serviu para pagar prêmios aos jogadores e liquidar débitos.
Balanço do primeiro ano de gestão
Eu acho que o balanço é positivo. Você assumir um clube na situação que assumimos, sem dinheiro. Todo mundo sabe que a empresa, o futebol, dependem de dinheiro. Conseguimos dois títulos importantes e eu acredito que se não fosse a arbitragem, a gente teria ido para a final da Libertadores. Encaro como muito positivo e um aprendizado também. A gente não sabe tudo. Cada dia vamos aprendendo. Eu acredito que foi muito positivo e, principalmente, para você ter uma noção maior da responsabilidade de títulos. Principalmente o da Libertadores, que todo mundo quer.
Ambições pessoais
Esse primeiro ano como vice de futebol te deixou com desejo de ser presidente do Cruzeiro?
Depois que fui presidente do Ipatinga, descobri que ser presidente é uma responsabilidade maior. Mas eu quero seguir a carreira de executivo de futebol. Porque o presidente ele trabalha de graça e quando dá errado, tudo é o presidente. No cargo que estou, se tudo der errado, se não tivesse ganhado a Copa do Brasil, eu sei que teria recebido muitas críticas. Eu estou me aprimorando e batalhando para ser o gestor de futebol profissional. Não cargo eletivo. Tanto que eu coordenei a campanha, eu sou sócio do Cruzeiro há mais de cinco anos, e não quis entrar no Conselho Deliberativo. Muitos pediram para eu entrar, alguns agora até querendo mudar o estatuto para que sócio possa ser candidato à presidência. Eu já avisei a todos que não tenho esse interesse de ser presidente do Cruzeiro. Não é minha área, mas como fui coordenador da campanha do Wagner e quero ajudar, o Cruzeiro tem muitas jovens lideranças que surgiram que, amanhã ou depois, podem ser presidentes. É difícil fazer um sucessor na capital. A pessoa que está de fora e quer ser presidente, ela não tem noção do que é o futebol, o dia a dia, a responsabilidade, a dificuldade de arrumar o dinheiro. Uma das coisas que vou ajudar é para que o Cruzeiro possa ter vários sucessores para daqui para frente, amanhã ou depois, não passar aperto e não ter gente para dar sequência ao caminho vitorioso do clube.
Você trabalharia no Atlético, assim como o Eduardo Maluf migrou do Atlético para o Cruzeiro e o contrário?
No Atlético eu não trabalharia porque minha imagem sempre foi ligada ao Cruzeiro e sei que os atleticanos não gostam de mim por causa dessa rivalidade. No Atlético, com certeza, eu não trabalharia.
Mas em outros clubes você trabalharia?
Eu, para te falar a verdade, pretendo exercer essa função de executivo por seis anos. Aqui no Cruzeiro. Se der certo politicamente, porque isso envolve a parte política. Para colocar o Cruzeiro no trilho, acredito que vai depender de cinco ou seis anos. E temos planos ousados para o Cruzeiro. Tanto no futebol como na estrutura que precisa ser agregada no futebol. Pegamos o Cruzeiro, o Mano até falou, o Cruzeiro estava ficando para trás. Se você não cuidar, é igual esse celular. Ele está ficando para trás. O futebol está ficando assim, principalmente, na parte médica. Você vê que vai comprando os aparelhos, está sempre surgindo os novos. Para ter esse tanto de jogos, você precisa estar equipado para os atletas terem menos desgaste. Todo mundo fala da idade do time do Cruzeiro, mas você vê o tanto de jogos que o time fez e o tanto que correu. Contra o Corinthians, vários jogadores deles mostraram desgaste, e no nosso não. Acho que é a tecnologia que investimentos e o grande trabalho da comissão. Temos hoje um dos melhores preparadores físicos do país.
Nova Toca
Como que vocês planejam o Cruzeiro daqui a seis anos em relação a resultados, estrutura, zerar dívidas e projeção de títulos?
Um dos grandes empenhos nosso é uma coisa que você ganha muito se tiver os dois centros de treinamentos juntos. O projeto nosso de colocar o junior com o profissional, eles já estão treinando lá, mas não está dando para colocar eles para morar lá por questão de logística, de construção. Mas um dos grandes desejos como dirigente é ter um terreno que abrigaria as duas Tocas, 1 e 2. E estamos nesse caminho. Estamos trabalhando, estudando a viabilidade de terreno. O Cruzeiro precisa disso. Você vê, o Flamengo vendeu alguns jogadores aí e equalizou a dívida. O torcedor não gosta de vender, mas você ter alguns jovens para vender por 40, 50 milhões de euros, é o que vai zerar nossa dívida. Aí depois que o Cruzeiro zerar, evitar vender novos talentos.
O objetivo é ampliar a Toca II?
Não, porque não cabe. O terreno não comporta. Você teria que ter, no mínimo, oito campos de futebol. Teria que ser um terreno maior. A gente estuda a viabilidade de um outro terreno, que tem uma localização boa, para que em um futuro bem próximo a gente possa ter um centro de treinamento da base e do profissional juntos. Como eu gosto de dizer, o São Paulo, que tem dois grandes CTs, não é junto. São poucos os clubes que têm isso junto. Acho que seria muito importante para o futuro do clube, a gente ter isso. O Cruzeiro está investindo hoje no Sub-11, Sub-12. Inclusive, vale a pena fazer uma matéria da safra no Brasil. Safra que a gente fala é da qualidade de jogadores. Daqui cinco, seis anos, o Brasil vai voltar a ser aquela potência que foi no passado. Acompanho e é assustador a qualidade. No próprio Cruzeiro, se fala muito do Estavão, mas não é só ele. Vários outros jogadores lá que têm tudo para brilhar no Cruzeiro.
O que seria feito da Toca I e da Toca II?
Tem que estudar. Criar uma comissão. O Cruzeiro pode fazer grandes empreendimentos imobiliários. Pode fazer permuta, mas quem decidiria é o Conselho Deliberativo. Acho que deveríamos conseguir o terreno sem se desfazer da Toca I e da Toca II. Depois que conseguir o outro terreno e tiver construído, o Conselho é competente para sentar e dar destino aos outros dois terrenos. É muito importante um projeto de formação de atleta que esses dois centros de treinamentos sejam juntos.
Já tem algum local que vocês estão estudando?
A gente tem um grande desejo de conseguir esse terreno para o lado do Rio de Janeiro. Antes do Posto Chefão. Isso porque 80% dos jogadores do Cruzeiro gastam duas hora para ir treinar. Uma para ir e outra para voltar. É difícil. Se você consegue fazer para aquele lado ali, o jogador fica a 20 minutos do CT. Ele economizaria uma hora e meia por dia de logística.
Balanço do Cruzeiro em 2018
Qual a avaliação do primeiro ano de trabalho da atual administração?
Foi muito positivo. A gente vê que o clube mostrou um empenho tão grande dentro de campo que criou uma sinergia muito grande com a torcida. Isso nos fez levar até agora quase 1,2 milhão de torcedores ao estádio. Acho que foi positiva a manutenção da comissão técnica num momento em que ninguém acreditava que eles não ficariam. Quando me reuni com o Mano e apresentei a ele o projeto de ganhar títulos e conseguir pagar em dia as despesas do futebol, nós conseguimos. Ano que vem será mais difícil ainda financeiramente. Mas acredito que a gente tem condições de seguir esse caminho, que é o caminho dos títulos. Para você assumir um clube, tem que conhecer a grandeza do clube. E nós conhecemos a grandeza do Cruzeiro. Todos os clubes divulgando que não fizeram time por causa de falta de dinheiro. E nós pegamos o Cruzeiro sem dinheiro nenhum. E seguimos sem dinheiro nenhum em caixa de rotatividade. Graças a Deus, estamos mantendo. Foi um grande trabalho da nossa gestão de trazer os jogadores e manter os que já tinham. Às vezes você cobra reforços, mas muita gente não sabe: o Fábio não ficaria no Cruzeiro. O contrato dele estava para não ser renovado, e havia proposta de outro clube. Quando eu sentei com ele, ele achou que eu estava indo rescindir. E nós renovamos o contrato dele. Enquanto ele tiver condições, o Cruzeiro estará renovando, porque é um grande ídolo nosso. Queremos que esses jogadores continuem no Cruzeiro o maior tempo possível.
O título da Copa do Brasil foi importante pela premiação milionária ou para reduzir a pressão sobre a diretoria?
Não podemos levar em consideração pressão por títulos. Temos que considerar se estamos fazendo o trabalho certo. A gente tinha. Tanto que, por questão política, me criticaram na internet, e eu fiquei tranquilo. Modéstia à parte, sei fazer futebol, vivo isso desde os 12 anos de idade. E o futebol não é difícil de fazer. Você pega lá as próprias matérias, nas quais os torcedores comentam, e a realidade é aquela que o torcedor está falando. Não foge disso. Acho que o mais difícil foi o dinheiro. O título, além de ter nos dado o prazer da conquista do título, ajudou muito o clube.
Projeção para 2019
Qual é a prioridade do Cruzeiro em 2019?
Ganhar títulos. Vamos trabalhar para ganhar o Mineiro, a Copa do Brasil de novo, o Brasileiro. Até estive na CBF, na sala do presidente. Quando ele assumiu, eu pedi a ele emprestado o cheque da Copa do Brasil. Agora fui lá novamente e falei: ‘agora você adianta o cheque de 2019, pois o Cruzeiro vai brigar pelo título de novo’. Ele me disse: ‘é isso aí, tem que ter confiança’. A gente tem confiança que o Cruzeiro tem uma equipe. O Cruzeiro tem entrosamento. Na final, em vários momentos, o Cruzeiro segurou a bola, cadenciou o jogo, teve um padrão de jogo. Você vê que quando mexe uma peça ou outra, o Cruzeiro tem o mesmo padrão. O Mano tem contrato até dezembro de 2019. Até agora, tudo está certo para ele continuar, a menos que haja uma grande proposta da Europa para tirá-lo do Cruzeiro. Não desvalorizando os outros clubes, mas, dentro do Brasil, pelo que já é o Cruzeiro nas mãos dele, acho que ele não sairia do Cruzeiro. Creio que o Mano vai cumprir o contrato.
A Copa do Brasil seguirá tendo prioridade maior que o Brasileiro?
Acho que sim. Tanto que é uma competição charmosa, todo mundo quer ganhar, e agora com essa premiação... Mas temos uma informação de que a Libertadores terá aumento considerável de prêmios já em 2019.
Sobre o sonho do presidente de ganhar o Mundial. Essa ambição é real?
Até comentei com o Mano sobre títulos. Chegar ao Mundial é fácil. Ganhar o Mundial é difícil. Temos que ter um planejamento nosso dentro desses seis anos de ganhar o Mundial. Esses seis anos nossos passam por isso. É ter um elenco qualificado nesse período. Você não monta o elenco em um ou dois anos, mas com um trabalho de planejamento de posições, quem você acha que vai ficar no clube por mais tempo, para você chegar ao Mundial e não passar vergonha.
Mano Menezes
O Mano estaria disposto a renovar para 2020, 2021? Seria uma sequência até inédita nos últimos anos no futebol brasileiro. (O técnico chegou ao clube em 2015, saiu e retornou em julho de 2016)
Pelo que eu falo com o Mano, para tirá-lo do Cruzeiro hoje teria que ser ou um grande projeto no futebol brasileiro ou um clube da Europa. Pelo que a gente tem, com o Cruzeiro conseguindo equacionar essa dívida para manter salários em dia e o projeto nosso sadio, acho difícil ele sair do Cruzeiro. Porque o que mantém o treinador - o torcedor quer isso -, é ganhar títulos. Mas quem decide somos nós. E na minha opinião, não é só o título que decide se o treinador vai ficar. Se está no caminho certo… Porque título todo mundo quer ganhar. Você tem que estar no caminho do título, porque título todo mundo quer. É igual o planejamento no futebol. Ganhou, teve planejamento. Não ganhou, não teve. Mas a verdade é que todo mundo planeja, só que o planejamento reconhecido é o vencedor.
Embora Mano Menezes tenha contrato até o fim da temporada 2019, caso surja uma surpresa e ele deixe o Cruzeiro em 2019, vocês têm um plano B? De que técnicos você gosta?
Tenho um bom relacionamento com o Mano, a gente conversa muito no dia a dia. O Mano, eu falo sempre, ele é um grande gestor. E uma das coisas que a gente comenta é isso: você contratar treinador é a missão mais difícil do dirigente. Não vou falar nomes aqui, acho que seria até antiético da minha parte citar nomes de treinadores que possam estar empregados, mas acho que teríamos aí no mercado dois nomes que poderiam fazer um trabalho. Mas não fazer um trabalho como o do Mano. Apesar de eu não conhecer o dia a dia desses treinadores, mas o Cruzeiro vai fazer de tudo para não perder o Mano. A gente quer renovar o contrato dele, quer fazer trabalho a longo prazo e falei para o Mano: se você souber contratar e mantiver o grupo, crise de derrubar treinador não vem. Porque para isso ele tem que perder três, quatro, cinco jogos seguidos, tem que estar dando tudo errado. E eu acredito que isso não vai acontecer aqui no Cruzeiro, por mais difícil que seja manter as vitórias por longo prazo.
Qual é o perfil de técnico que você gosta?
Gosto do treinador que também seja gestor, treinador que saiba trabalhar o dia a dia do futebol. Você vê aí os outros clubes, principalmente aqui em Minas, estoura um monte de problemas, aparece na imprensa. O Cruzeiro teve seus problemas, isso é normal, você não consegue manter 31, 33 atletas, como foi a média, mais um monte de funcionários, sem ter problema. Isso é assim, uma empresa é assim, todo lugar é assim. Mas a gente soube administrar. A gente tem uma gestão boa do dia a dia, da nossa diretoria e em conjunto com essa grande gestão que o Mano tem com a comissão técnica. O meu perfil é esse, é de treinador vencedor e que tenha conhecimento tático.
Copa Libertadores
Você revelou que a Conmebol vai aumentar a premiação da Libertadores. O que o Cruzeiro recebeu de oficial?
Extraoficialmente, está tendo um aumento considerável dos direitos de transmissão e vai aumentar o prêmio. Mas, sobre a final (deste ano), é até ruim eu falar aqui, acho injusto chegar à final pela arbitragem. Eu não vejo um grande mérito (do Boca) não, o gostoso no futebol é ganhar. E ali ficou claro que teve armação para o Boca chegar à final. Você pega aí, mesmo o Ríver, no último jogo (semifinal contra o Grêmio), quando o lance foi em dúvida a favor do River, o VAR atuou. Quando o lance foi a favor do Grêmio, o VAR não atuou. Acho que a arbitragem interferiu na decisão da Libertadores. E o grande desafio nosso vai ser esse, vai ser trabalhar os bastidores da Conmebol para que o Cruzeiro não seja roubado novamente. (Cruzeiro foi eliminado pelo Boca nas quartas de final após arbitragens polêmicas na Bombonera e no Mineirão)
E a final da Libertadores em jogo único no Chile, em 2019?
Se fosse para que eu decidisse, acho errado. O charme são os dois jogos, lá e cá, você beneficiar os dois países, igual beneficiaria Argentina e Brasil. É o que o torcedor gosta. Aquele que é o torcedor raiz, nosso mesmo, que vai na arquibancada, que canta, ele não tem condição de viajar para ver a final. Então, eu acho errado isso daí. Mas não é a gente que decide.
Acha que o voto do coronel Nunes pesou contra o Brasil nessas arbitragens polêmicas da Copa Libertadores? (O presidente da CBF votou favoravelmente à escolha do Marrocos como sede da Copa do Mundo de 2026, contrariando o acordo da Conmebol para os filiados apoiarem a candidatura de México, EUA e Canadá)
Para falar a verdade, esse povo lá (da Conmebol) nem lembra que o coronel (Nunes) existe. A CBF já mudou, o presidente já vai assumir novamente. Isso daí é porque, realmente, eu até acredito que o presidente eleito, o novo que está na Conmebol, ele não participou disso daí, mas a máfia por trás de tudo é muito grande.
Mercado
O clube terá condições de fazer contratações de peso para 2019?
Não posso falar nomes agora, mas vários clubes têm ligado querendo jogadores do Cruzeiro. A saída de engenharia que vamos arrumar é a troca de jogadores, pois não temos recursos para comprar atletas. Se tivéssemos o recursos, hoje ia ao Atlético-PR e comprava o lateral-esquerdo (Renan) Lodi, traria o (atacante) Pablo, jogador que ajudaria muito o Cruzeiro pelo perfil físico, Libertadores. Mas o Cruzeiro não tem esse dinheiro. O torcedor pode saber que, daqui dois anos, estando equalizada essa dívida, vamos fazer do Cruzeiro mais do que é dentro de campo, vamos criar uma máquina dentro de campo. Tenho certeza que com o apoio do torcedor na arquibancada nós vamos conseguir. O caminho agora é este, a troca de atletas.
Prevê quantas trocas?
Ainda vamos fazer reuniões com o Mano. Mas pretendemos trazer um lateral-esquerdo, um atacante de velocidade, um lateral-direito para disputar posição com o Edílson, porque tem sacrificado muito o Lucas Romero. Acredito muito que isso vai dar para fazer, pois tem muitos times que querem jogadores do Cruzeiro. O que o Cruzeiro precisa é qualificar o plantel, não tem de qualificar os 17 praticamente titulares que vem jogando.
O técnico Mano Menezes já disse que “quem chega mais cedo bebe água limpa”. O Cruzeiro está perto de acertar alguma contratação? Já tem algo adiantado?
Tem, já tem uns 15, 20 dias que a gente tem trabalhado pesado, estamos só definindo alguns detalhes para podermos fazer essa qualificação do elenco. O torcedor não precisa esperar grandes nomes, que no aniversário do Cruzeiro vai contratar, pois o clube está sem dinheiro e tem um grande elenco. Todo grande time tem de ter ali uns 17 jogadores titulares. O Cruzeiro tem esses jogadores.
A idade avançada de alguns dos principais jogadores preocupa? Do time considerado titular, só Arrascaeta e Lucas Silva têm menos de 30 anos.
Acho que não, até em uma entrevista coletiva que demos este ano foi tema: pela tecnologia do futebol, esses jogadores não são velhos mais. Até brinquei com o Fábio que daqui a pouco ele estará com 40 anos e defendendo o Cruzeiro, para azar do Rafael. Vários clubes querem o Rafael, inclusive. A gente não vai falar nomes, mas uns três clubes nos procuraram querendo ele. É mérito do Cruzeiro, que hoje tem quatro grandes goleiros. O Brazão foi convocado para a Seleção Brasileira, o Vítor Eudes é um grande goleiro. Então, o Cruzeiro não tem muita preocupação com goleiro. Acho que no geral do elenco, é aquilo que estamos te falando, estamos conversando com vários clubes, mas vários deles ainda não tem situação definida dentro do Campeonato Brasileiro. Então temos de aguardar mais um pouco, mas acredito que a qualificação do elenco vai ser forte.
O próprio Mano Menezes acredita que alguns jogadores vão pedir para deixar o Cruzeiro em busca de mais minutos em campo. Quantos atletas você acredita que vão seguir este caminho?
Pelo tanto de competição que se tem, nessa parte vou discordar um pouco, acho que ninguém vai querer sair. Quem quer sair chega e fala. E até agora ninguém falou nada. Teve um amigo meu, muito fã do Lucas Silva, que me ligou questionando o porquê de ter tirado ele do time. Eu virei e pedi para ele pegar os 11 titulares que vai ver que o Lucas Silva está entre os três que mais jogou. Ele fez a conta e falou: “Realmente”. Então, hoje, é difícil você ir para um clube e ser titular absoluto, até na questão de poupar, de rodar o time. Então, acho que se você está num clube onde Minas Gerais é um lugar bom para se viver, temos de ser honestos, a pressão aqui é pequena. Você vê em outros clubes aí, torcida invade, faz pressão, a imprensa pressiona mais, vocês (da imprensa mineira) são até bonzinhos. Aqui é tranquilo de se viver, de se jogar. Ainda mais recebendo em dia. Então, acho difícil alguém querer sair.
Você falou sobre contratar laterais para disputar posição. Isso indica as saídas de Ezequiel e Marcelo Hermes?
Acho que tem dois jogadores que precisam sair para jogar são Ezequiel e Marcelo Hermes. Isso é claro e notório. Acho que em outros clubes eles vão se dar bem, a questão aqui foi mais de adaptação mesmo. Acredito muito que, em termos de saída desses aí que foram titulares, dificilmente vão sair.
Com quatro jogadores de frente que foram titulares em algum momento, Mano tem dor de cabeça boa. Quantos ficam?
Este é um problema bom, né? Essa reunião que vamos fazer é para poder definir. O difícil é quando você não tem. E lembrando que a gente foi obrigado a contratar porque teve a contusão do Sassá e a contusão do Fred. Se não, o Cruzeiro não precisaria ter contratado atacante.
O Cruzeiro fecha 2018 com 31 jogadores no grupo. Qual o número ideal para a próxima temporada?
Acho que, por questão da base, o Mano está olhando aproveitar dois ou três atletas da base, pode ser que esse número passe para 33. Mas quem define, é uma questão exclusiva do treinador. Acho que você contando com a base, dá para disputar a temporada com 33.
Você disse que o Cruzeiro recusou R$ 25 milhões pelo David. Houve arrependimento ou vocês confiam que David no ano que vem pode render todo o esperado?
Houve a proposta de R$ 25 milhões pelos 70% que o Cruzeiro tem, pois os outros 30% ainda são do Vitória. Eu acredito assim: tanto vocês da imprensa quanto o torcedor tem de entender que o jogador que não faz pré-temporada não consegue render o que tem para render. Você vê que quando o De Arrascaeta chegou no CruZeiro, passou por período como o David. De Arrascaeta não era esse jogador que chegava e definia os jogos, que é o que ele é hoje. Pelo momento em que o David chegou, antes de ele agravar a contusão (muscular sofrida ainda no time baiano), os próprios atletas elogiavam, falavam da qualidade do David, dos gols que ele fazia no treino, de direita, de esquerda. Eu acredito que ele vai dar muita alegria para a torcida do Cruzeiro, pois agora ele vai fazer a pré-temporada. E ele fazendo esta pré-temporada, além de a gente estar atrás de um atacante velocista, ele é este outro atacante de velocidade que nós temos.
Bruno Henrique, do Santos, ainda é um sonho do Cruzeiro?
Não é um sonho. Bruno Henrique é um grande jogador. Ele, como vários que tem no mercado, em qualquer momento se tiver como o Cruzeiro contratar, o Cruzeiro vai contratar.
Passado quase um ano, como você avalia a atuação do Cruzeiro no mercado de janeiro de 2018? O clube contratou bem ou mal em janeiro passado?
Acho que se você procurar as contratações de alguns clubes, como Palmeiras, Flamengo e o próprio Atlético vai ver que o Cruzeiro gastou R$ 23 milhões, R$ 24 milhões com contratações. Um jogador do Flamengo custou o dobro. Um jogador do Palmeiras custou tudo isso. E um jogador do Atlético custou tudo isso. Então, se você for olhar, as contratações do Cruzeiro, é porque muitas vezes o torcedor ou algum membro da imprensa fala: “R$ 20 milhões”. Gente, isso não é nada para o futebol hoje. Dos R$ 50 milhões (de premiação pelo título) da Copa do Brasil, recebemos R$ 45 milhões, por causa do imposto e, ainda brinquei em uma entrevista, que do mesmo jeito que ele entra on-line, ele sai online, pois você tem de cumprir os compromissos e o dinheiro vai embora mesmo. Futebol virou uma máquina de gastar dinheiro. Não tem como você entrar e falar assim: “vou limitar a folha em R$ 200 mil”. Ou vai brigar para não cair, vai fazer a infelicidade do torcedor. Você tem é de ter um projeto ousado de buscar recursos. Isso o Cruzeiro está atrás também.
O Cruzeiro sempre teve interesse na volta do Ricardo Goulart. Ao mesmo tempo, ele é visado por Palmeiras e Flamengo. Como está essa negociação? Como é seu contato com o jogador e o agente?
Eu tive uma conversa com o empresário do Ricardo Goulart na quinta-feira. O Goulart realmente deve retornar ao Brasil em janeiro, mas hoje eu vejo ele muito próximo do Palmeiras. Por questão financeira. O Cruzeiro vai ter que fazer muitas trocas de atletas e a troca que o time da China gostaria de ter é o Arrascaeta. Hoje, a gente não pode perder o Arrascaeta para trazer o Goulart. Por questão de adaptação tática e pelo Arrascaeta ser um ídolo da nossa torcida. Não dá. Hoje, no nosso entendimento, você trazer o Ricardo Goulart e gastar 10 milhões de euros, é melhor você pegar esse dinheiro, fazer as trocas no mercado e usar para manter o salário em dia. Hoje, dificilmente para essa temporada que vem ou para as duas seguintes o Goulart vestirá a camisa do Cruzeiro. Até porque ele vai fazer o tratamento dele no Palmeiras. Pela ligação que ele tem como o Felipão, com o Alexandre Mattos e pelo dinheiro que eles têm, dificilmente o Cruzeiro conseguirá bater o Palmeiras nessa. E não bate em nenhuma.
Existiu, de fato, uma oferta do chineses para uma troca de Goulart por Arrascaeta?
Eu tenho um amigo muito ligado ao Guangzhou Evergrande (time do Ricardo Goulart). Ele me disse que a única possibilidade de trazer o Goulart era cedendo o Arrascaeta. Os chineses gostam do Arrascaeta. Eu respondi que assim ficaria difícil, porque queremos o Goulart, mas não queremos perder o Arrascaeta.
Em relação aos jogadores com contrato até dezembro de 2019, o objetivo é renovar o mais brevemente possível?
A gente quer deixar o jogador tranquilo, até porque não tem essa especulação. Hoje em dia, ele tem que esperar julho para assinar um pré-contrato. Mas nós não somos bobos. Sabemos que vai lá e assina com dado de julho, pega algum dinheiro. Não é aqui no Cruzeiro, é geral.
E os atletas com ligação até o meio do ano? Exemplos: Barcos, Lucas Silva, Ederson...
Essa questão depende da reunião com o Mano. Lógico que jogadores como Thiago Neves não precisam de reunião com Mano. Ele faz questão da presença do Thiago Neves no nosso grupo. Mas alguns outros jogadores que temos que aguardar essa reunião para trabalhar profundamente.
Futebol nacional
Você é a favor do fim dos campeonatos estaduais?
Sou a favor de diminuir as datas. Minas Gerais fez um modelo bacana em 2002, com o campeonato do interior e depois o supercampeonato. Acho que poderia ser um caminho.
O que pensa sobre liga independente de clubes no Campeonato Brasileiro, sem a participação da CBF?
Sobre a CBF, acho que os clubes ainda não estão preparados para administrar uma liga. Acho que a CBF tem que criar uma comissão de clubes. Essa comissão tem que ser criada, com presidente nomeado e correr atrás de projetos para os clubes. Com a força da CBF e falando em nome de todos os clubes, tem muitas coisas a serem feitas fora de campo usando essa força do futebol brasileiro para os clubes. No momento, na minha opinião, os clubes não são preparados para administrar uma liga. Creio nessa nova gestão da CBF, valeria até a pena vocês fazerem uma matéria lá, conhecer, os caras são abertos e ligados às novas tecnologias. Ninguém imaginava que um gol do Corinthians seria anulado numa final daquela. É fruto daquela gestão. Ah, o pênalti não foi pênalti, é lance de interpretação, o VAR errou. Mas na hora que teve o gol, poucas pessoas dariam aquela falta que foi feita no Dedé, apesar de ter sido falta. Como o lance do gol foi depois, dentro do campo do Corinthians, com estádio lotado, ninguém nunca viu isso acontecer no passado contra o Corinthians. Lembro que tanto Cruzeiro quanto Atlético foram prejudicados no passado em jogos contra o Corinthians. Acho que as coisas vão melhorar no futebol brasileiro a partir de abril quando o novo presidente pegar a caneta.
Federação Mineira de Futebol
A relação com a Federação Mineira de Futebol será estreitada com a mudança de gestão?
O Adriano (Aro) é um cara tranquilo. O problema anterior do Castellar (Modesto Guimarães Neto) é que infelizmente, para a Federação, quando ia fazer uma decisão, ele pesava. Vou dar uma ideia de bastidores que ninguém sabe. Eu estava no cinema, não quis assistir a Atlético x URT, que definiria a colocação no campeonato. Quando eu saí do cinema, havia 500 mensagens no meu telefone de torcedores e conselheiros xingando que eles tinham colocado o jogo do Cruzeiro no sábado à noite e o do rival no domingo à tarde. Poxa, o Cruzeiro foi líder do Campeonato. O Cruzeiro deveria no mínimo ser ouvido. Você quer jogar sábado e domingo, não é um direito da TV. A TV paga para definir a tabela de modo geral. Mas numa decisão dessas colocar o Cruzeiro sábado à noite? O que eu fiz: liguei para o Castellar e ele falou que foi a Globo. Liguei na Globo e ela falou que foi o Castellar. Aí falei com a Globo: ‘em qual conta o Cruzeiro deposita a multa: Globo Minas ou Globo Rio? Vamos depositar e jogar domingo’. Quando você paga a multa, está obedecendo ao contrato. Fizemos valer o direito do Cruzeiro. A Globo concordou, a Federação teve que voltar atrás. Tudo que tem que definir para Cruzeiro e Atlético, eles definem para o Atlético. Nós não vamos aceitar. Não queremos ajuda, queremos apenas o correto. E o correto é quem foi o líder invicto teria de falar que ia jogar sábado ou domingo. É critério técnico. Quando você toma decisão por critério técnico, é o justo. Eles tiveram que voltar atrás e colocaram o jogo do Cruzeiro no domingo. Isso é uma coisa que o torcedor pode esperar. Dentro de uma normalidade e de um respeito a todos, até porque se não fosse a Globo, o futebol brasileiro não seria o que é. Temos que respeitar a Globo. Mas eles têm que respeitar o Cruzeiro. O Cruzeiro ficou por cinco ou seis anos tomando porrada nos bastidores. Agora não vai ter isso. Dentro de um respeito, vamos fazer respeitar a grandeza do clube.
Finanças
Como foi gasto o dinheiro da Copa do Brasil?
Dos R$ 50 milhões, teve o imposto (10%), aí sobraram 45. Dos 45, R$ 15 milhões foram de premiações. Já estão pagas. Sobraram R$ 30 milhões. O Cruzeiro pagou a folha que venceu no dia 5 de outubro. Já havíamos adiantado assim que o time eliminou o Palmeiras (na semifinal). E vai pagar em 5 de dezembro.
Qual o valor da folha salarial?
A folha do Cruzeiro hoje, com funcionários, gira em torno de R$ 11 milhões.
De que modo o Cruzeiro tem trabalhado para manter a folha salarial em dia?
O Cruzeiro tem trazido bons patrocínios. O Cruzeiro fez uma renda muito boa, né?! É o que eu te falo: você vende ingresso mais barato, mas leva maior quantidade, você fecha o caixa. Se não me engano, vai ser divulgado, o Cruzeiro terá entre R$ 35 e R$ 40 milhões com receitas do estádio. Estamos levantando direitinho.
Nesses patrocínios, por exemplo, está o do Supermercado BH, do empresário Pedro Lourenço?
O Pedrinho do BH paga um patrocínio normal. O que ele fez por último foi fazer um patrocínio a mais na camisa para zerar dívida de R$ 11 a R$ 12 milhões de empréstimos da gestão anterior. Essa dívida foi zerada. Acredito que, na administração do Wagner, no próximo balanço, dessa dívida que foi divulgada de mais de R$ 200 milhões já vamos ter pagado uns R$ 40 milhões, seja em forma de publicidade ou parcelamento. Parcelamento de premiação (referente à gestão de Gilvan de Pinho Tavares) com os jogadores, se não me engano, eram R$ 11 milhões. Mês que vem paga a última também.
O Cruzeiro precisará recorrer a empréstimos bancários?
Vai sim. Mas, na verdade, não é empréstimo. É um adiantamento. Empréstimo mesmo ninguém faz para clube de futebol. Geralmente são antecipados créditos da Globo e de patrocínios. Será preciso antecipar receita. São os bancos que antecipam as receitas. Por exemplo, você tem R$ 50 milhões para receber da Globo e quer antecipar R$ 20 milhões, você vai ao banco, antecipa e a Globo assina. Todos os clubes fazem isso.
Qual a previsão de caixa para o fim do ano?
Não acho que dará déficit. Se você pegar nossas receitas, tudo que levantamos, eu entendo que não haverá déficit. Pode até que dê algum déficit porque pagamos algumas dívidas, sendo R$ 12 milhões com publicidade e R$ 11 milhões em premiação. Mas a despesa normal do futebol não terá déficit.
E as dívidas na Fifa?
Eram quase R$ 70 milhões. Agora estão em R$ 90 milhões. Essa será a maior dor de cabeça. A dívida é em euro e dólar. É cambial.
O Cruzeiro pensa em recorrer ao mercado sul-americano?
A gente pensa, mas como isso envolve dinheiro, no momento não. Nós vamos ter que, dentro do Brasil, chegar nos clubes e trocar. O que você tem aí que não vai usar? É uma boa opção para todos no Brasil.
Com relação à multa do Fred, o Cruzeiro está otimista em não ter que pagar?
Não temos dívida por Fred. O que existe é uma cláusula que pode virar dívida. É quase impossível o Cruzeiro perder aquilo. É como você falar assim: ‘Vou sair do Superesportes, do Estado de Minas, e ir para outro órgão de imprensa’. ‘Não, você pode ir, mas se for, tem que pagar R$ 10 milhões’. Acabou a escravidão. Não existe escravidão. A própria legislação esportiva fala que um terceiro não pode impedir um atleta de trabalhar. A partir do momento em que você rescinde com um atleta, você passa a ser um terceiro. Isso é claro na Fifa e na CBF. Dificilmente o Cruzeiro perderá isso aí”.
Mudanças na diretoria
O que aconteceu na saída de Marco Antônio Lage do clube?
O Marco Antônio Lage é uma pessoa espetacular, de uma grandeza como pessoa. Ele foi contratado para ser vice-presidente de comunicação, marketing e comercial. E vocês, da imprensa, e talvez ele, em algum momento, confundiu com diretor executivo do clube. Não era diretor executivo do clube, e sim dessas três pastas. E ele me falou isso: ‘meus projetos são em longo prazo, e o futebol é imediato. Tenho projetos para tocar, então vou sair’. Disse a ele: ‘Realmente, Marco Antônio, no futebol, vendemos o almoço para comprar a janta. Temos que atropelar, vender e ir atrás de patrocínio’. Ele, como Fiat, dava o dinheiro. As pessoas iam lá, sobretudo órgãos de imprensa e comunicação, vender publicidade, e ele dava o dinheiro. Agora, buscar o dinheiro é difícil. Eu sempre falo isso nas entrevistas, pode até ficar chato, mas a pior parte no futebol é buscar o dinheiro. Você tem que ser arrojado ali para buscar o dinheiro. Tenho feito muito essa parte dentro do Cruzeiro, buscando o dinheiro, buscando parceiros. O que eu mais entendo é de dívidas, né?! Toquei um clube por 10 anos sem dinheiro, que iniciava o ano devendo R$ 500 mil.
Em sua saída, Marco Antônio Lage disse que o Cruzeiro vivia a pior crise financeira de sua história e precisaria, inclusive, pensar em se desfazer de patrimônios. Como você recebeu isso? Concorda com essa sugestão?
Isso é um assunto do Conselho Deliberativo. Não é do Lage, nem nosso. Para você ter uma ideia, ele continuará trazendo negócios para o Cruzeiro. Aquela entrevista que ele deu sobre o grupo chinês, o que o grupo chinês quer é inviável para o Cruzeiro. Ele apresentou ontem a proposta ao Serginho (Sérgio Nonato, diretor-geral), na qual o clube pagará durante quatro anos R$ 13 milhões por ano. Em compensação, o clube vai lá, escolhe 10 jogadores da base e fica com 50% de cada. Isso não é proposta. O futebol tem que ser feito de realidade. Talvez em muitas das vezes eu seja antipático, mas o futebol não é para o mundo sonhador. A conta vence. O quinto dia útil está chegando aí. É igual a gente fala de aluguel. Como a gente não trata quem mora de aluguel. É difícil. Você tem que ter dinheiro, tem que ter recurso. Lógico que, para nós, foi uma pena a saída do Marco Antônio Lage. Mas, o Cruzeiro não precisa do Itair, o Cruzeiro não precisa do Lage, o Cruzeiro não precisa do Wagner. Qualquer pessoa que se sentar na cadeira, se souber usar um pouquinho a marca do Cruzeiro, o Cruzeiro mantém a grandeza que é.
Além do Lage, saíram outros integrantes da gestão, casos de Bernardo Pontes, André Araújo, Breno Muniz, Aristóteles Lorêdo e Robson Pires. As mudanças ocorreram por qual motivo?
Pelo que o presidente me passa, porque isso não é da minha área, ele quer resultado. Se você (repórter) ficar na sua casa, deitado e esperando, não vai arrumar matéria. O Cruzeiro tem que ter resultados. Se eu, como gestor do futebol, não der resultado, peço para sair. E tem que sair mesmo. Se você não der resultado no Superesportes, tem que sair. Hoje o mundo é global, é dinheiro. Você tem que pagar as contas. O Cruzeiro tem feito essas trocas porque não está funcionando. O menino que saiu, Bernardo Pontes, é espetacular, mas infelizmente não deu certo. Você tem que se sentar na cadeira, atropelar e buscar recursos para o clube.
Categoria de base
Como você avalia o trabalho das pessoas que estão à frente da base do clube?
O trabalho da base é o que eu falo: os torcedores e nós, de modo geral, têm que tomar cuidado com rede social. A base do Cruzeiro era pintada como maravilha. Nós assumimos, e a base não tem nem campo. Nós temos imagens gravadas, fotos e vídeos do departamento onde os jogadores moravam, do gramado e do gramado sintético. As pessoas não se preocupavam em ter campo de futebol. Menino precisa de quê? De campo! Você é repórter, precisa de quê? De computador para escrever sua matéria. O jogador precisa de campo. Nem isso nós temos na Toca I. Estamos batalhando. Agora, em janeiro, trocaremos o sintético justamente por isso. O Cruzeiro estava sucateado. Lá na base, você encosta numa parede e caem duas. Estamos encerrando agora vários projetos de leis de incentivo para captar recursos, para que não tenha que sair do custo. O problema do Cruzeiro hoje é físico. A Toca 2, que já foi uma maravilha mundial, hoje não é mais. O que eu estou falando aqui está aberto para vocês irem lá comprovar. A primeira coisa que nós tivemos de fazer, os garotos nem tinham televisão para assistir. Só tinha uma TV geral, não havia nos quartos. O Cruzeiro teve que comprar colchão. Esse negócio de rede social, não quero criticar ninguém, mas tenho que falar a verdade: o torcedor tem que tomar cuidado com rede social. Ali se pintam muitas coisas: coisas boas viram ruins, coisas ruins viram boas. O Cruzeiro está sim com uma preocupação muito grande com a estrutura física da base. Você vê que no profissional tivemos que arrancar os dois campos para construir novamente. Já está encerrando, vamos plantar a grama novamente. O Cruzeiro tem sim plano de melhorar a estrutura física, que já não é como antigamente.
Existe plano para quem não for aproveitado da base gerar receitas ao clube?
Receita imediata não. É um ou outro jogador que estoura que você consegue um retorno financeiro nele. Mas é um projeto nosso colocar vários jogadores emprestados na Europa, principalmente em Portugal e na Turquia. Se o jogador for bem, a gente consegue uma receita para o clube.
Quem tem maior potencial para ser utilizado no grupo em 2019?
Sobre aproveitar jogadores, não vamos falar nomes agora para não cometer injustiças. Mas vocês estão acompanhando os treinos, o Mano já está olhando alguns, então acho que há sim possibilidade de um ou outro ficar no profissional. Além disso, o Cruzeiro faz maior captação no mercado. Está trazendo jogadores de 16, 17 e 18 para melhorar a captação interna na Toca. Acredito que em dois ou três anos o Cruzeiro terá quatro jogadores de nível para serem titulares no profissional.
A derrota por 6 a 0 para o Fluminense pela Copa do Brasil Sub-17 impactou na decisão de demitir Fred Pacheco do Cruzeiro? Esses resultados preocupam?
Acho que preocupa, pois o Cruzeiro é um time que não pode tomar de seis. Seis, inclusive, é uma marca registrada nossa. Não podemos tomar essas goleadas. Mas a troca ocorreu porque o treinador de base tem que ser muito identificado com a base. E o Fred, que é um bom treinador e agora assumiu o Villa Nova, tem a cabeça voltada para o profissional. É um menino de futuro, foi até eu quem indicou ele para o Cruzeiro. Mas acredito que na base tem que formar o jogador de qualidade. Se tem qualidade, automaticamente vai ganhar títulos”.
Qual o critério de observação na categoria de base para promover ao profissional e emprestar para a Europa?
Há uns quatro meses tive uma conversa com o Mano. Disse a ele: ‘Mano, coloque uns meninos da base, nós precisamos revelar’. Ele respondeu: ‘traga lá que eu ponho. Vê lá qual você acha que dá...’. Não tinha ainda um jogador pronto para atuar no profissional. Infelizmente, o Marcelo não foi bem nos jogos e teve que voltar (ao sub-20). É um complexo. Acho que o projeto que temos agora é aumentar a integração. O jogador treina e faz vários coletivos contra o profissional. A maioria dos jogadores treina na Toca 2, sobretudo o time júnior. Isso ajuda a melhorar o emocional do jogador. Você vê o lateral-esquerdo, o Rafael, ele entrou no jogo contra o Vasco. Você vai trabalhando aos poucos para quando ele integrar o plantel não sentir emocionalmente.
O Cruzeiro tem potencial pode fazer em breve uma venda milionária do quilate de Vinícius Júnior, do Flamengo, e Rodrygo, do Santos, ao Real Madrid? Digo, levando em conta revelações da base.
É o que a gente espera. É um caminho mais rápido para encurtar a dívida. O torcedor não gosta que vende, mas ele tem que entender que se você não paga o credor, ele penhora sua conta. Se ele penhora sua conta, você não tem dinheiro para movimentar o dia a dia do clube. Infelizmente, a dívida foi feita. Independentemente de quem a fez, ela é do Cruzeiro. Não existe gestão, existe o Cruzeiro, e o Cruzeiro precisa honrar a dívida. Temos que trabalhar num contexto geral: revelar jogadores, equacionar as dívidas e ganhar títulos.
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