Como treinador, Seedorf recebeu carinho dos torcedores, mas encontrou opositores dentro do Milan (Foto: AFP)



Avanço ou retrocesso? A negociação do Cruzeiro com Clarence Seedorf divide os torcedores celestes. Para uns, falta bagagem ao holandês na função de treinador para assumir o time em 2016, ano de reestruturação e pressão por títulos. Outros já veem no ex-craque um manancial de ideias novas, alguém que poderia fazer a diferença no cenário atual do futebol brasileiro. Fato é que a primeira experiência de Seedorf como técnico, no Milan, fracassou. Ele teria ousado demais no dia a dia e nos jogos, não conseguiu ser consenso entre os atletas e, sobretudo, ficou prematuramente sem o respaldo da direção.



Seedorf assumiu o Milan em janeiro de 2014 e foi demitido em junho. No cargo, ele somou 11 vitórias, dois empates e nove derrotas. O aproveitamento foi de 53%. Eliminações na Copa da Itália, na Liga dos Campeões e a modesta 8ª posição no  Italiano minaram seu prestígio. O clube ficou sem vaga nas competições europeias de 2015/16.

O jornal La Gazzetta dello Sport chegou a listar fatores que derrubaram Seedorf, que vão de métodos e horários de treinamento, modificação do esquema de jogo e mexidas supostamente erradas no time.

Independentemente disso, Seedorf teria saído do cargo com apoio da maioria da torcida. E um dos ícones do clube, Paolo Maldini, alertou que nem mesmo Pep Guardiola daria jeito no Milan que o holandês dirigiu.



O diretor de futebol Thiago Scuro conversou com Seedorf na Itália e volta ao Brasil neste domingo, quando informará se a negociação avançará ou não. O auxiliar Deivid continua cotado para substituir Mano em 2016.

Seedorf teria mudado horários de treinos, aumentado carga de trabalho e sido exagerado nas orientações (Foto: AFP PHOTO / GIUSEPPE CACACE )



MÉTODOS

Segundo informações publicadas pela Gazzetta e por portais italianos, Seedorf começou a perder o apoio dos jogadores por mudar a rotina de treinos da manhã para o turno da tarde. Além disso, as sessões passaram a ser longas. Ele também desagradou o grupo por interromper demais os treinos táticos para dar extensas orientações.

Os atletas ainda teriam ficado incomodados com a presença constante de um psicólogo no local de concentração e com reuniões técnicas antes das partidas divididas por setor do time, não mais coletivas.



Uma curiosidade é que Seedorf introduziu o jogo de “queimada” nas recreações. Veja no vídeo:



ESQUEMA
Logo na entrevista de apresentação, Seedorf avisou que mudaria o esquema 4-3-2-1 do antecessor Massimilano Allegri pelo 4-2-3-1. “Jogarei com o 4-2-3-1 porque quero aproveitar a grande qualidade que temos no ataque. Seremos ofensivos. Vamos criar com os jogadores um grande relacionamento e transmitir a vontade de trabalhar e sair dessa situação”, declarou.

Na prática, o novo esquema teria tirado estabilidade defensiva do Milan. A imprensa italiana o acusou de ser teimoso e de mudar muito os jogadores de posição. Quando as derrotas viraram rotina, Seedorf não conseguiu mais motivar o elenco.

O ex-treinador Arrigo Sacchi, campeão várias vezes com o Milan, ironizou as experiências de Seedorf. “Quando você quer montar uma banda de rock tendo apenas músicos de jazz, fica difícil. Clarence demostra ter várias ideias, mas há uma diferença entre dizer e fazer. Ele tem alguns bons resultados, mas o seu jogo nem sempre é bem sucedido”.

Técnico deu apoio a Balotelli e foi mal visto (Foto: AFP)





O ex-jogador do Milan e ídolo croata Zvonimir Boban também não poupou críticas às mudanças propostas por Seedorf em seus cinco meses no comando. “Ele tem um coração grande, mas foi arrogante. Achou que estava fazendo tudo certo e que conseguiria consertar o time da noite para o dia”.

Mais moderado, Paolo Maldini, ex-companheiro de Seedorf no Milan, destacou que o holandês poderia ter sido conservador no início de trabalho. De qualquer forma, ele via limitações no elenco. “Nem mesmo Pep Guardiola poderia fazer algo diferente. Não atribuo nenhuma parte de culpa a Clarence. Claro que ele não é um especialista, mas ele tem muita coragem e personalidade. Talvez fosse mais sensato trazer um treinador mais conservador até o final da temporada, pois há risco de ele ser queimado. Nunca pensei que nenhum outro treinador pudesse fazer melhor (que Allegri) e mudar as coisas”.

RELACIONAMENTO
Seedorf foi acusado pela imprensa italiana por insistir demais em Balotelli. O relacionamento também não seria dos melhores com jogadores como Abate, Montolivo e Pazzini. Com Kaká e Robinho, por outro lado, o treinador tinha boa relação, independentemente de escalá-los como titular.



Não bastasse tudo isso, o holandês encontrou resistência do diretor-geral do Milan, Adriano Galliani, que antes mesmo de sua chegada preferia a contratação de Filippo Inzaghi. Coincidência ou não, o ex-atacante foi o sucessor de Seedorf no clube.

No vídeo abaixo, Adriano Galliani foi flagrado pela TV criticando formação de Seedorf:
Leitura labial mostrou surpresa do dirigente ao ver Honda no time: "Isso é loucura"

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