Vencedor do prêmio Craque do Brasileirão nos dois últimos anos, Everton Ribeiro teve um destino diferente daquele esperado para um jogador no auge de sua carreira. Negociado no fim de janeiro por 15 milhões de euros, o meia se transferiu para o Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos. Em um país em que o futebol tem pouca visibilidade, ele admite que terá dificuldades para retornar à Seleção Brasileira depois de ter desperdiçado um pênalti na eliminação nas quartas de final da Copa América, diante do Paraguai.
Porém, bem adaptado a Dubai, onde mora com a esposa Marília e o cachorro Brad, Everton Ribeiro, em entrevista exclusiva ao Superesportes, garante não ter dúvidas de que fez uma boa escolha quando deixou o Cruzeiro. “Não me arrependo em nenhum momento. Foi uma escolha junto com a família, estamos gostando bastante”, avaliou o meia, que tenta levar o Al Ahli à decisão da Liga dos Campeões da Ásia. Se confirmar a vaga na final, ele poderá reencontrar o ex-cruzeirense Ricardo Goulart, que defende o Guangzhou Evergrande, da China.
À distância, Everton Ribeiro torce pela reação do Cruzeiro. Um dos jogadores negociados após a conquista do bicampeonato brasileiro, ele deixou uma carência no meio-campo do time celeste. Enquanto a diretoria não encontrou um armador para substituí-lo, o antigo camisa 17 da Raposa aposta em Alisson como seu sucessor. “Ele vai despontar ainda mais”, disse.
Confira, na íntegra, a entrevista de Everton Ribeiro:
Como foi a adaptação aos Emirados Árabes? Houve alguma dificuldade com comida ou idioma?
“Não foi muito difícil me adaptar aqui. É mais tranquilo. Você encontra em todo lugar comida de todos os tipos. Eles falam muito bem o inglês. É questão só de um tempo para aprender a falar um pouco do inglês. E é só saber onde comprar as comidas. Essa parte foi muito tranquila. Estou começando a estudar inglês, mas já entendia bastante. Só não sabia me expressar muito bem. Vou começar a melhorar agora”
Houve alguma dificuldade para a adaptação da sua esposa? Ela encontrou obstáculos com restrições religiosas?
“Aqui, como 70% da população é estrangeira, é bem aberto. Não tem restrição. Lógico, aqui tem os costumes deles, há lugares em que você não pode usar certas roupas. Mas, para as mulheres, ir ao shopping de saia é tranquilo. Essa parte também foi uma das coisas que me fez escolher vir para Dubai. Da parte muçulmana, é o lugar mais fácil de se adaptar. Para ela (Marília), também é muito fácil”
E como foi a sua adaptação ao clube e ao futebol dos Emirados Árabes?
“No começo, foi um pouco difícil, porque é uma nova maneira de jogar. Vim sem pré-temporada e já me colocaram para jogar. Até entrar no ritmo, foi um pouco difícil. Depois, mais entrosado, as coisas fluíram bem. Está tudo certo. Conseguimos alcançar lugares que o clube jamais tinha conseguido. A gente espera continuar assim”
O treinador do Al Ahli, Aurelian Cosmin, é romeno. Como você se comunica com ele?
“Tem o Leo, que faz parte da comissão técnica e é brasileiro. Quando eu ou o Lima (outro brasileiro do time) não entendemos, ele traduz. Normalmente, a comunicação é em inglês. O treinador também fala um pouco de espanhol. Dá para entender bem o que ele quer”
Como é a relação com outros jogadores? Há muita diferença no ambiente entre os atletas numa comparação daquilo que você via no Brasil?
“É uma diferença grande, porque aí é mesma língua, tem mais intimidade. Aqui, é uma equipe jovem, eles brincam bastante, dão liberdade para a gente se entrosar mais. Eles discutem e aprendem um pouco de português. Pelo que passam para a gente, eles nos ajudam bastante na adaptação a Dubai”
Você chegou ao Al Ahli como camisa 8. Não demorou para que te entregassem a camisa 10 e você passasse a usar a braçadeira de capitão. Conquistou moral rapidamente...
“Eles gostam muito de brasileiro. Eles nos respeitam bastante. Então, trabalhando sério, mostrando que vim para ajudar, eles me acolheram muito bem. Espero continuar ajudando”
É comum ouvirmos casos de atletas brasileiros em que recebem prêmios dos xeques, como relógios ou carros, por metas alcançadas ou grandes atuações. Isso já aconteceu com você ou é algo raro?
“Comentei com o Leo, que é da comissão. No Brasil, têm uma impressão muito errada do que passa aqui. Ele está aqui há cinco anos e nunca viu acontecer isso. Uma vez ou outra, isso acontece. Mas é muito difícil. Até brinquei com ele que estou esperando até agora que alguém me dê um presente. Já ganhamos, classificamos para a semifinal da Liga dos Campeões, e nada de relógio ou carro. Ele falou que é difícil acontecer. Às vezes, passam para o Brasil que isso é normal aqui”
Vocês estão na semifinal da Liga da Ásia. Há uma possibilidade de você reencontrar o Ricardo Goulart na final. Já espera por esse duelo com ele?
“Chegamos à semifinal da Liga dos Campeões asiática e jogaremos na quarta-feira, contra o Al Hilal, na Árabia Saudita. O time do Goulart está na outra semifinal, pegará um time do Japão (Gamba Osaka). Vão ser dois jogos bons. A gente espera que os dois passem para fazermos uma final, que será bacana”
Você acha que a ida para os Emirados Árabes tem relação com sua ausência nas últimas convocações da Seleção Brasileira?
“Com certeza, fica mais difícil, até pelo que todo mundo fala também em relação ao futebol daqui. Mas, estou com cabeça tranquila. Vou continuar fazendo meu melhor aqui. É muito importante estar bem aqui no clube. Se a Seleção Brasileira precisar de mim, ficarei muito feliz em ajudar”
Qual avaliação vocês faz da sua passagem na Copa América?
“Foi um sonho realizado jogar uma competição oficial pela Seleção Brasileira. Infelizmente, a gente não ganhou. Também não joguei bastante para ajudar mais, mas fiquei contente de atingir uma meta. Agora, penso em continuar firme para, se aproveitar a oportunidade novamente, agarrar com todas as forças”
Você ainda pensa no pênalti perdido contra o Paraguai?
“Já passou. Futebol é muito dinâmico. Certas coisas acontecem. Bati e errei, mas acontece. Já bati outros aqui e fiz. A gente fica triste na hora, mas é bola para frente”
Dunga alegou que alguns jogadores estavam com virose no jogo contra o Paraguai, quando o Brasil foi eliminado. Foi o seu caso? E que avaliação você faz do desempenho da Seleção?
“A gente teve virose uns dois, três dias antes, mas não creio que influenciou em nada. Pelo menos da minha parte, eu já estava bem. Poderia ser melhor com certeza. Queríamos chegar à final, sermos campeões. Tínhamos um bom time, mas, infelizmente, não conseguimos passar pelo Paraguai. Era um jogo que tínhamos condições de nos classificarmos. O futebol tem muita imprevisibilidade. A Seleção tem de se arrumar novamente e tentar melhorar cada vez mais”
Não só do ponto de vista do futebol, quando pensa sobre a ida para Dubai, o que avalia? Valeu a pena ter essa experiência de vida?
“Não me arrependo em nenhum momento. Foi uma escolha junto com a minha família, estamos gostando bastante daqui. Podemos jogar uma competição difícil, que é a Liga dos Campeões, fazendo história pelo clube. Estou muito feliz. Espero continuar rendendo bem aqui, para continuar mais coisas, que serão importantes para minha carreira”
Você pensa em permanecer até quando no Al Ahli? Planeja ir para a Europa?
“Faltam três anos e meio de contrato. Quando sair daqui, pretendo continuar fora do Brasil, quem sabe ir para a Europa. A gente sabe que tem de continuar trabalhando. Agora, penso no momento em estar cada dia mais preparado para ajudar a equipe aqui. Depois, quando for chegando o final da temporada, a gente vê como vai ser”
À distância, você tem acompanhado os jogos do Cruzeiro? Você mantém contato com algum ex-companheiro?
“Eu falo bastante com alguns jogadores que estão lá no Cruzeiro. Acompanho os jogos. Aqui passam jogos de todas as rodadas, e muitos deles são do Cruzeiro. Quando não passa pela TV, assisto pela internet. Acompanho e torço pelos companheiros que estão lá. O Cruzeiro está numa situação que não era para estar, mas já está melhorando, e creio que o Cruzeiro vai melhorar ainda mais”
Depois de ser bicampeão brasileiro, você se considera um torcedor do Cruzeiro?
“Gosto muito do Cruzeiro. Foi um lugar que me acolheu bem, eu me senti em casa. Com certeza, torço não só pelo Cruzeiro, mas pelos companheiros que ficaram. É um grande clube e merece sempre o melhor”
Desde que você saiu, a torcida pede a contratação de outro meia, que foi prometido pela diretoria. Como você vê essa carência? Tem alguém do elenco atual que vê como candidato a substituí-lo?
“É difícil, quando está renovando uma equipe, encaixar logo de cara, e achar um time como o que veio de duas temporadas boas. Sempre ficará a sensação de querer colocar outro no lugar de quem estava bem. O Cruzeiro tem grandes jogadores. Creio que o Alisson vai despontar ainda mais. Ele tem tudo para levar o Cruzeiro a grandes conquistas”
Você confia que o Cruzeiro evitará o rebaixamento?
“Vai ser difícil, como está sendo até agora. No final, as equipes se conhecem ainda mais. Mas, o Cruzeiro tem jogado melhor, está com mais confiança. Isso será bom para saírem dessa situação incômoda. Tenho certeza de que o Cruzeiro sairá dessa situação e buscará uma boa colocação”
Numa enquete recente sobre os maiores ídolos do Cruzeiro no Mineirão, que completou 50 anos, você ficou entre os 10 primeiros, à frente de Nelinho e Ronaldo. Como você vê isso, pensa em voltar alguma dia?
“O Cruzeiro é um lugar que me acolheu muito bem. Com certeza, é um lugar pelo qual tenho um carinho muito grande. Se tiver a oportunidade e eu estiver bem, sentindo que possa ajudar, iria com certeza. Sobre a questão da enquete, eu vi e fiquei muito feliz. Saber que grande parte da torcida gosta do meu futebol, do que fiz pelo clube, isso é gratificante demais”