Lionel Andrés Messi Cuccittini, 35, é daqueles raros casos em que o distanciamento não se faz tão necessário para se reconhecer o significado histórico de alguém. Talvez porque, ao fim de tudo, o futebol seja isto: emoções. E nenhum povo viveu esta Copa do Mundo tão à flor da pele como o argentino.
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Mais que números, recordes e troféus, Leo simboliza a redenção emocional de uma nação que tanto chorou as derrotas das últimas décadas e que tão ansiosamente aguardou o fim do jejum de 36 anos em Mundiais. Mas nem sempre foi assim.
Não faz muito tempo que Messi era visto com certa desconfiança por parte de seu país. O expoente de uma talentosa geração muitas vezes foi considerado "pecho frío", adjetivo pejorativo àqueles que não sentem o jogo com a intensidade devida.
Para os críticos, era fácil explicar. Afinal, Messi crescera longe da pátria, não cantava o hino nacional e jamais seria o que é Diego Maradona. O eterno '10' foi exatamente o oposto, com uma capacidade sem igual de despertar nos outros os sentimentos mais profundos.
Nesses tempos, a idolatria de Messi na Argentina se justificava pelos números. Como não amar um jogador que conseguiu tanto? Bolas de ouro, artilharias, gols antológicos, títulos dos principais torneios de clubes do planeta... Mas ainda faltava algo.
A construção do ídolo na América do Sul, especialmente na Argentina, não obedece unicamente a padrões estatísticos ou à racionalidade. É preciso mais. É necessário sentir, viver e colocar em campo um jogo que reflita a paixão de um povo.
Timidamente, Messi entendeu o que lhe faltava. A reconstrução do ídolo começou anos antes da glória máxima contra a França no Catar. Assumiu a braçadeira de capitão e, mais do que isso, o papel de líder de uma equipe que aprendeu a admirá-lo. Messi jogava pela Argentina, e a seleção passou a jogar por ele.
Em sintonia, buscaram os títulos da Copa América de 2021, contra o Brasil no Maracanã, e da Finalíssima deste ano, diante da Itália. Mas a nova versão de Messi, fora e dentro de campo, se consolidou mesmo no Catar.
A relação com a torcida, que encheu os estádios no Oriente Médio, foi mais estreita que nunca. Fisicamente, não havia tanto contato. Mas a "argentinidade" do craque o aproximou das arquibancadas, que o saudavam a cada jogada genial.
E foram muitas neste mês no Catar. Mesmo na reta final da carreira, Messi participou de todos os minutos jogados pela Argentina nas sete partidas. Sempre foi titular e nunca substituído. Desfrutou de cada segundo do passo derradeiro da jornada do herói.
Em campo, conquistou com justiça o prêmio de melhor jogador da competição. Marcou sete gols - um a menos que o artilheiro Mbappé - e distribuiu três assistências. Foi decisivo a cada instante, inclusive na final contra a França.
Fora dos gramados, até mesmo os episódios polêmicos lhe favoreceram, como o "Qué mirás, bobo? Andá p'allá" ao holandês Wout Weghorst e as mãos nos ouvidos em resposta a Louis van Gaal. "Messi está Maradoneando", diziam.
Com essa nova face, conquistou a glória máxima e todo um país. Em nome de Diego, eternizou-se na galeria dos campeões mundiais - para a sorte da Copa do Mundo e do próprio futebol.
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