Jogo no Catar teve Roberto Carlos pistola, Terry 'chateado' e Infatino juiz
'Pelada' reuniu lendas da Fifa e trabalhadores que ajudaram a construir obras da Copa do Mundo para evento cheio de situações inusitadas
Por João Vítor Marques - Enviado especial ao Catar
12/12/2022 19:44
- Atualizado em: 12/12/2022 20:08
O árbitro não pensou duas vezes. Tirou as mãos de Alessandro Del Piero que lhe seguravam a camisa e, de forma ríspida, mostrou o cartão amarelo. O ambiente "tenso" foi quebrado segundos depois por gargalhadas. O dono do apito cumprimentou a lenda do futebol italiano e saiu do gramado, substituído, sob aplausos. Era ninguém menos que Gianni Infantino, o presidente da Fifa.
À beira do gramado, Roberto Carlos o aplaudia. Raro momento de calmaria do ex-lateral-esquerdo na gélida noite no suntuoso Estádio Al Thumama, em Doha, nesta segunda-feira (12). "Tem que movimentar, caralho!", exclamou o exigente treinador, com menos de cinco minutos de jogo. Gesticulou, vibrou a cada dividida e reclamou da arbitragem.
Hora nenhuma sentou no banco de reservas. A um passo do gramado, orientava um time que sofreu no início. Pressionado, recuou e esperou o momento para contragolpear, bem ao estilo de Fabio Capello, treinador que dirigiu Roberto Carlos no Real Madrid.
Mas a equipe que parecia encurralada explorou o espaço da defesa adversária, comandada por Cafu e John Terry, e abriu 2 a 0. Festa de Roberto Carlos e dos 5.409 torcedores que desfrutavam a rara oportunidade de ver de perto estrelas do futebol mundial em um estádio que ajudaram a construir.
Nas arquibancadas do jogo festivo estavam trabalhadores - majoritariamente imigrantes - que estiveram nas obras de infraestrutura do Mundial. Do lado de fora, antes de a bola rolar, dividiram momentos de alegria com amigos e familiares. Tiraram fotos, fizeram vídeos e contemplaram o momento.
O descontraído jogo de lendas das Copas, com Infantino de árbitro
Alguns deles, os mais sortudos, foram a campo e dividiram vestiário com ex-jogadores históricos, como Materazzi, Essien, Michel Salgado, Seedorf, Jorge Campos, Vieri, Makelele, Deco, Zanetti, Batistuta, Mario Kempes e outros.
"A experiência é fantástica. Eles construíram o estádio para que nós pudéssemos jogar futebol e de repente eles estão jogando futebol com seus ídolos", elogiou Cafu.
"É muito legal ver os trabalhadores aqui. Eles organizaram um campeonato e decidiram que os vencedores jogariam com os ídolos. E aqui estão, eles têm bastante noção de futebol, de posicionamento", disse o português Nuno Gomes, ex-jogador da seleção.
O trabalhador que jogou como goleiro de um dos times, aliás, travou um duelo com ninguém menos de John Terry, eterno capitão do Chelsea. No segundo tempo da partida de 60 minutos, o ex-zagueiro resolveu jogar no ataque e perdeu diversas chances.
"Chateado", Terry brincou com o goleiro e pediu para que ele saísse do campo. Aos risos, o arqueiro continuou - mas se empolgou e quase entregou um gol para a equipe adversária.
O jogo festivo organizado pela Fifa foi uma maneira de reconhecer os trabalhadores que participaram da construção do estádio. Ao longo dos últimos anos, o Catar foi alvo de críticas por más condições de trabalho aos imigrantes nas obras da Copa.