Cristiano Ronaldo traçou um plano poucos meses antes de a bola rolar na Copa do Mundo do Catar: representar a seleção de Portugal até a Eurocopa de 2024, na Alemanha. Na altura, vai ter 39 anos, a mesma idade hoje, por exemplo, do companheiro de longa data e zagueiro Pepe, que continua como titular indiscutível na defesa.
O desejo do craque português não pegou ninguém de surpresa. Era esperado. Foi feito, inclusive, durante uma festa de gala na sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), nos arredores de Lisboa, no fim de setembro.
"Ainda vão levar mais um pouquinho de carga do Cris", começou por dizer, em tom de brincadeira.
"Quero participar deste Mundial e da próxima Eurocopa. A minha ambição é muito grande", completou, de forma mais séria.
Quando anunciou as duas metas individuais, CR7 estava ainda vinculado ao Manchester United. No entanto, já trabalhava forte nos bastidores para ser negociado ou ter o contrato rescindido, o que veio acontecer em meados de novembro.
Semanas antes do rompimento (por mútuo acordo) do vínculo, Ronaldo colecionou mais polêmicas no futebol inglês e, na bombástica entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan, revelou um roteiro de carreira mais impactante: se aposentar caso seja campeão mundial no Catar.
"Sim. Aposentado. 100%", resumiu, ao ser perguntado sobre o cenário.
Internamente, parte da estrutura da FPF acredita mesmo, pelo menos a nível de seleção, no adeus do ídolo com o eventual título da Copa de 2022. Uma forma perfeita de fechar um ciclo vencedor que começou com a conquista inédita da Eurocopa de 2016 e passou pela Liga das Nações de 2019.
Pessoas próximas ao atacante, especialmente as irmãs e a namorada Georgina Rodríguez, são mais "radicais". Esperam que o goleador de 37 anos deixe de fazer parte do grupo de Fernando Santos mesmo se não vier a soltar o grito de campeão em solo catari.
Cristiano Ronaldo é apaixonado pela seleção, onde estreou em 2004, pelas mãos de Luiz Felipe Scolari. Teve papel fundamental na evolução financeira e no crescimento da infra-estrutura da Federação. Também não cansa de dizer aos mais jovens para sentirem o mesmo amor.
Depois de quase 20 anos de serviços prestados e um posto de quase intocável, Ronaldo aos poucos começa a cair em si. Demorou, mas aconteceu. Ter sido reserva nas oitavas de final da Copa de 2022, diante da Suíça, na última terça-feira (6), já é visto por muitos como um divisor de águas.
Apesar de surpreso com a decisão do treinador, CR7 respeitou e aceitou ser suplente de Gonçalo Ramos. Teve um papel exemplar mesmo sentado no banco. Comemorou todos os gols, puxou pela equipe e entrou em campo sem cara feia no segundo tempo na goleada por 6 a 1.
"Ele deu um grande exemplo de grande capitão. Na minha perspetiva, o Cristiano continua sendo um jogador importantíssimo para a equipe portuguesa", destacou Fernando Santos.
"O Ronaldo sabe perfeitamente que o mais importante é o 'nós'. É preciso respeitar as decisões", reforçou Pepe.
Sem o camisa 7 de início, Portugal jogou como ainda não tinha jogado no Catar. Houve muito mais mobilidade, intensidade e faro de gol no ataque. O substituto de Ronaldo deu mais liberdade criativa para Otávio e, especialmente, João Félix e Bernardo Silva.
Nesta quarta-feira (7), na ressaca do triunfo, o craque não treinou em campo com os reservas. Ficou na academia e fez um trabalho específico de recuperação física com os titulares. Um procedimento padrão no cronograma de treinos do veterano atacante. Não houve qualquer tipo de recusa de ficar ao lado dos suplentes.
Com a exibição de gala do substituto Gonçalo Ramos, autor de um hat-trick, Cristiano Ronaldo vai seguir fora do time titular nas quartas de final, contra Morrocos, no sábado (10). É, a partir de agora, uma arma (nada secreta) para o decorrer das partidas. Até quando?
Com a aposentadoria a depender do título da Copa do Mundo no Catar, Cristiano Ronaldo, que está livre no mercado da bola, tem uma multimilionária negociação em andamento com o Al Nassr, da Arábia Saudita. A princípio, não há acerto verbal e muito menos assinatura de contrato. O craque português ainda tem a preferência de permanecer na Europa e disputar a Liga dos Campeões.