Enquanto a bola rola no Catar, as ruas de Venda Nova, em Belo Horizonte, ficam vazias. Nos bares e restaurantes, torcedores da Seleção Brasileira enchem os espaços e reivindicam protagonismo da região na capital mundial dos bares durante a Copa do Mundo.
Na região de Venda Nova, em BH, torcida festeja vitória do Brasil
"Aqui fica muito cheio, é bem organizado. Os bares de Venda Nova não devem nada aos da Zona Sul", disse a advogada Cecília Assunção enquanto assistia à goleada brasileira sobre a Coreia do Sul nesta segunda-feira (5/12) em um bar no Bairro Letícia. "Moro na região e vejo os jogos aqui. Fica sempre cheio e tem muitas opções. Não é só na Centro-Sul que tem bares de boa qualidade, com cerveja boa e gelada, comida gostosa", complementou a agente de intercâmbio Andreia Lages, na mesma mesa.
O clima é mais de bar do que de arquibancada, com bebidas e comidas completando as mesas nos bares que circulam a Praça do Letícia. Assim que soa o apito final, boa parte do movimento dos estabelecimentos migra para as ruas e a praça, onde a festa segue noite adentro.
O produtor de conteúdo digital, Iago Modesto, não escondeu sua empolgação com a campanha brasileira na Copa do Mundo e é mais um a defender sua regional como ponto preferido para acompanhar os comandados de Tite. Comemorando a maiúscula vitória por 4 a 1 sobre a Coreia do Sul, ele já se planeja para a próxima partida, na sexta-feira, contra a Croácia pelas quartas de final.
“Moro aqui na região, sempre venho aos bares daqui. Venda Nova está pau a pau com o Centro. É o segundo centro de Belo Horizonte. Depois a galera vai pra praça, vai para outros bares, segue no bar em que viu o jogo. Hoje fizemos um gol com seis minutos e já ficamos despreocupados, já garantimos mais um carnacopa na sexta-feira”, disse.
Política em campo
A primeira Copa do Mundo da história a acontecer nos dois últimos meses do ano faz com que os ecos das eleições gerais sigam sendo percebidos de forma mais nítida durante o torneio. Em um bar no Bairro Santa Mônica, em meio a dezenas de camisas amarelas, se destaca um número 13 vermelho nas costas de um cliente.
O funcionário público aposentado, Geraldo Magela, ostenta uma camisa da seleção com autógrafo de Ronaldinho Gaúcho e, ao lado do escudo da CBF, um broche do Cruzeiro, deixando claro seu time mesmo com a referência ao ídolo atleticano. Nas costas, um número 13 vermelho é outra forma de fazer uma ressalva à indumentária amarela.
"Ganhei essa camisa em um concurso antes da Copa de 2006. Era pra escrever uma frase de motivação para o Ronaldinho Gaúcho, e eu recebi uma camisa autografada de prêmio. O número 13 vermelho eu coloquei depois, durante as eleições, para não me confundirem. Porque eu voto no Lula", disse.
Do outro lado da rua, Marcos Antônio dava uma mãozinha para seu amigo, dono de um bar. O impressor gráfico faz as vezes de churrasqueiro durante os jogos do Brasil e, para servir os clientes, passa a maior parte dos 90 minutos de frente para a grelha e de costas para a televisão. Ele diz que consegue ver os lances mais importantes e coloca a disputa eleitoral para dentro de campo quando comenta sobre o camisa 10 da Seleção.
“Venho aqui nos dias de jogos para ajudar meu amigo fazendo o churrasco. Estive aqui nos quatro jogos. Na hora do gol eu olho, quero que fique 4 a 1 porque eu ganho meu bolão. Mas acho que a seleção não precisa do Neymar, ele atrapalha a seleção. Muito cai-cai, cheio de manha. E eu sou lulista e ele é bolsominion, por mim, se ele não tivesse seria melhor", disse Marcos, que cravou o resultado das oitavas.
Goleada festejada
“Ninguém estava esperando essa goleada no primeiro tempo. Agora é esperar Argentina ou Holanda, porque contra a Croácia a gente vai ganhar. Não tenho dúvida”, disse Andreia Lages, que não se assusta com a atual vice-campeã mundial pelo caminho.
A Coreia do Sul chegou às oitavas-de-final pela terceira vez em sua história nas copas e se classificou em um grupo que teve o bicampeão Uruguai ficando pelo caminho. O time asiático foi presa fácil para os brasileiros, que resolveram o jogo nos 45 minutos iniciais com quatro gols.
A construção rápida da goleada deixou torcedores incrédulos. “Eu não esperava essa facilidade, a Coreia do Sul tem uma seleção muito rápida. O desenvolver do jogo foi realmente impressionante. Eu gostei da volta do Neymar, querendo ou não ele traz uma moral pro time”, disse o professor de Educação Física, Rafael Henrique. No mesmo bar, no Bairro Letícia, a advogada Cecília Palhares lamentou não ter apostado mais alto na Seleção: “Primeiro tempo foi maravilhoso, nem o mais otimista imaginaria esse cenário, o problema foi só ter acabado com os bolões”, brincou.