A Seleção Camaronesa tem uma árdua tarefa para se classificar às oitavas de final da Copa do Mundo do Catar. Precisa derrotar o favorito Brasil, torcer para a Suíça não vencer a Sérvia e ainda levar a melhor nos critérios de desempate. E boa parte da esperança de Camarões está depositada no técnico Rigobert Song, nome histórico do futebol local e "filósofo" nas horas vagas.
Como jogador, Song se tornou o primeiro africano a participar de quatro Copas do Mundo - recorde posteriormente igualado pelo compatriota Samuel Eto'o. Os dois, aliás, têm relação próxima e polêmica. O ex-atacante do Barcelona preside a federação camaronesa e chegou a ser acusado de influenciar a convocação do treinador para o Mundial do Catar.
Song também escreveu o nome na história das Copas de forma negativa. Só ele e o francês Zinedine Zidane foram expulsos em duas edições.
O primeiro vermelho de Song foi justamente em uma partida contra o Brasil. Ele foi punido pela arbitragem ao fazer falta dura em Bebeto na derrota camaronesa por 3 a 0, pela fase de grupos da Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994. A outra expulsão foi em 1998, diante do Chile.
No mesmo ano, transferiu-se para o Liverpool, clube de maior expressão da carreira. Pela seleção nacional, é o recordista de jogos, com 137 aparições e cinco gols.
Depois que deixou os gramados, tornou-se técnico e... "filósofo". Frasista, criou a "Teoria do perigo", mensagem estampada em francês em boné usado pelo comandante.
"Quando você sabe que está em perigo, você não está mais em perigo. É quando você não sabe que você realmente está em perigo", explicou o treinador, que cunhou a teoria sobre a vida em jogo contra a Argélia, decisivo para a classificação camaronesa ao Catar.
O pensamento foi reconhecido e rendeu a Song certificados da Organização Africana da Propriedade Intelectual (Oapi) e da Sociedade Civil para os Direitos da Literatura e das Artes Dramáticas (Sociladra).
Antes disso, Song contemplou a morte. Em 2016, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e ficou dois dias em coma. Tempos depois de se recuperar, relatou o episódio ao jornal L'Equipe, da França.
"Eu estava esperando uma visita, por isso a porta estava aberta. Se ela estivesse trancada, eu estaria morto. Inocentemente, não sabia que estaria lutando entre a vida e a morte. Caí, me senti desesperado e meu cachorro começou a latir, alertando meu inquilino, que chamou a ambulância. Foi um milagre. Quando acordei do coma, eu tinha apenas 60 quilos", disse.
Inspirado no milagre pessoal, tenta levar Camarões ao mata-mata da Copa. Para isso, o primeiro passo é vencer o poderoso Brasil. As equipes se enfrentam nesta sexta-feira (2), às 16h (de Brasília), no Estádio Icônico de Lusail.