Jogadores da Alemanha posaram para a foto oficial com a mão na boca em protesto contra censura da Fifa (Foto: INA FASSBENDER/AFP )


A Seleção Alemã encontrou uma forma de se manifestar durante a Copa do Mundo contra as leis do Catar que criminalizam a comunidade LGBTQIAP+. Antes da estreia ontem (23) diante do Japão, os 11 titulares posaram para a foto oficial com a mão na boca, indicando que foram censurados pela Fifa.





A entidade ameaçou punir financeira e disciplinarmente as confederações cujos capitães do time usassem a braçadeira com as cores do arco-íris. Inglaterra, País de Gales, Holanda, Bélgica, Suíça, Alemanha e Dinamarca planejavam o protesto intitulado "One Love" (Um Amor) durante todo o Mundial, mas voltaram atrás por conta de ameaças da Fifa.

No duelo entre Alemanha e Japão no Estádio Internacional Khalifa, em Doha, a arbitragem checou a braçadeira de Neuer e verificou que o goleiro não estava vestindo o ítem nas cores do arco-íris. A faixa, porém, foi utilizada pela ministra do interior alemã, Nancy Faeser, que estava nas tribunas da arena.

A Federação Alemã publicou uma nota em que explica por que Neuer não utilizou a faixa com as cores do arco-íris. "Queríamos usar nossa braçadeira de capitão para nos posicionar sobre os valores que defendemos na seleção da Alemanha: diversidade e respeito mútuo. Junto com outras nações, nós queríamos que nossa voz fosse ouvida", lê-se.




"Não era sobre fazer uma declaração política - direitos humanos não são negociáveis. Isso deveria ser tomado como certo, mas ainda não é o caso. Por isso essa mensagem é tão importante para nós. Negar a nós a braçadeira é o mesmo que nos negar a voz. Nós defendemos a nossa posição", completa a nota.

Segundo o regulamento do Mundial, os capitães devem utilizar as braçadeiras fornecidas pela Fifa. Se isso não ocorrer, o árbitro pode solicitar que o jogador "corrija a vestimenta". Caso a ordem seja descumprida, o atleta pode ser punido. Foi cogitado punir o protesto com cartão amarelo.



As confederações estavam dispostas a arcar com penas financeiras e chegaram a avisar à Fifa que pretendiam fazer o protesto. Porém, com a possibilidade de penalizações esportivas, foram demovidas da ideia.




O Catar é alvo de críticas desde que foi escolhido a sede do Mundial, em 2010, por conta das más condições de trabalho a imigrantes, cerceamento de direitos a mulheres e a criminalização da comunidade LGBTQIAP+.

Árbitro conferiu se Manuel Neuer estava com faixa alusiva à comunidade LGBTQIAP+ (Foto: INA FASSBENDER/AFP)



O Código Penal catari é parcialmente baseado na sharia, lei islâmica que prevê pena de morte para gays. No país, a maior penalização é de três anos de prisão. Livro sagrado do islã, o Alcorão se baseia na história do reino de Ló para criminalizar a homossexualidade. Em alguns países, as punições incluem chibatadas e apedrejamento.

A Fifa tem sido severamente criticada por ter escolhido o Catar como sede do Mundial, já que o regulamento da entidade que rege o futebol mundial fala em respeitar os direitos humanos. Repetidamente, representantes da organização da Copa têm falado que "todos são bem-vindos" no país, mas o dia a dia mostra o contrário.




As braçadeiras da Fifa


Às vésperas da Copa, a Fifa anunciou uma parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) para que as faixas usadas pelos capitães fossem estampadas com frases pré-definidas. A parceria gerou controvérsia e foi entendida como uma tentativa da entidade de calar as seleções europeias que planejavam protestar contra as leis do Catar.

As faixas terão as seguintes frases:

Primeira rodada da fase de grupos: Futebol Une o Mundo
Segunda rodada da fase de grupos: Salvem o Planeta
Terceira rodada fase de grupos: Protejam as Crianças
Oitavas de final: Educação para Todos
Quartas de final: Não à Discriminação
Semifinal: Mexa-se (faça atividade física)
Terceiro Lugar e Final: Futebol é Alegria, Esperança, Amor e Paz

Episódios na Copa


Nas tribunas do Estádio Internacional Khalifa ontem estava o jornalista brasileiro Victor Pereira. No dia anterior, ele foi constrangido e ameaçado por autoridades locais por portar uma bandeira de Pernambuco, quem tem um arco-íris. Os seguranças que o abordaram confundiram o símbolo com um apoio à causa LGBTQIA+.