Cerveja se tornou o centro da polêmica do maior evento esportivo do planeta (Foto: João Victor Marques/EM/D.A.Press)

 

Na corrida pelo álcool na Copa do Mundo, os prevenidos levaram vantagem. Torcedores com contatos no Catar tiveram ajuda para estocar bebidas em seus apartamentos alugados para o Mundial.




 

 

A reportagem conversou com dois turistas que estão no país por causa do futebol e uma residente do Catar que os auxiliou a comprar e guardar álcool. Os nomes serão preservados a pedido dos entrevistados.

 

A cerveja se tornou o centro da polêmica do maior evento esportivo do planeta, que começa neste domingo (20), quando o Catar enfrenta o Equador. Na última sexta-feira (18), a monarquia da nação árabe, por meio do Comitê Supremo para Entrega e Legado, decidiu banir a venda da bebida dentro dos estádios e em seus arredores.

 

A Budweiser, patrocinadora oficial da Copa, pagou US$ 75 milhões (cerca de R$ 450 milhões) pelo direito de comercializar seus produtos. A empresa foi surpreendida pela decisão, embora o governo já tivesse dado ordem anterior para que os estandes da companhia norte-americana fossem movidos para locais menos visíveis.




 

A Fifa, apesar de ter anunciado que a medida foi de comum acordo, não esperava que a proibição ocorresse. Para dirigentes, o Catar aguardou até o momento em que não houvesse mais tempo para um movimento de revogação do veto ao álcool nas arenas.

 

Um italiano e um uruguaio ouvidos pela reportagem, preocupados com as notícias da dificuldade de comprar cervejas no país, pediram ajuda a uma estrangeira que mora no Catar e possui cartão de residente. Com ele, é possível ir a centro de distribuição estatal fora de Doha ou aos poucos pontos autorizados a vender bebidas alcoólicas, comprar o produto e levá-lo para casa.

 

Nesses casos, ela levou para os apartamentos alugados pelos turistas. A moradora disse que conhece outras pessoas que fizeram o mesmo para amigos que viajaram a Doha.




Os dois turistas investiram cerca de US$ 600 (pouco mais de R$ 3.200) cada um para garantir um estoque de cerveja e vinho durante a competição, que termina em 18 de dezembro.

 

O consumo de álcool não é permitido pelo islamismo, a religião oficial do Catar. Ser visto bêbado na rua é considerado crime.

 

A cerveja, no entanto, está banida apenas nos perímetros dos estádios e dentro deles. Não é difícil consumi-la em Doha, desde que se tenha uma boa condição financeira. O álcool está liberado em bares autorizados pelo governo, que ficam principalmente dentro de hotéis. Um copo de 500 ml de cerveja é vendido por cerca de 50 riais do Catar (cerca de R$ 74).




 

No dia seguinte à proibição, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, disse que se sente árabe, em uma forma de dar apoio ao primeiro Mundial realizado na região. Uma escolha criticada desde que o Catar venceu a eleição, em dezembro de 2010. Na semana passada, o suíço Joseph Blatter, ex-presidente da entidade, disse que a escolha foi um erro.

 

"Claro que não sou qatari, não sou árabe, não sou africano, não sou gay, não sou deficiente. Mas sinto vontade, porque sei o que significa ser discriminado, sofrer bullying, como um estrangeiro em um país estrangeiro. Quando criança, sofria bullying porque tinha cabelo ruivo e sardas, além de ser italiano", declarou Infantino.