Em abril de 2021, o Atlético apresentou o 'Plano de Turnaround' com premissas para redução da dívida líquida nos anos seguintes. No entanto, o valor de R$ 1.209 bilhão de 2020 se transformou em R$ 1.571 bilhão em 2022, conforme o balanço financeiro do clube, enviado aos conselheiros nessa quarta-feira (26/4). O Superesportes lista, a seguir, o que deu errado no planejamento.
O projeto do Atlético foi apresentado no Galo Business Day daquele ano, pelo diretor de administração e finanças, Paulo Braz. O objetivo, naquele momento, era encerrar 2022 com R$ 731 milhões em dívidas. Para isso, o dirigente listou o que deveria ser feito.
"Um plano para mudar este estado de coisas: atacando o endividamento, reduzindo-o, mudar o perfil da dívida, examinar a possibilidade de vender ativos para pagar dívidas do passado, estabelecer limites na folha de pagamento e para investimento em atletas e, principalmente, investir mais e buscar dinheiro na base, fazendo com o que os atletas da base estejam mais presentes no plantel, além de ser uma referência na venda e compra de atletas, principalmente atletas da base", elencou Paulo Braz.
Apesar dos grandes valores, Braz acreditava que o plano era realista e idealizava igualar outros clubes com uma 'saúde financeira' melhor do que a do Atlético.
"O que nós estamos imaginando para o clube é muito realista, não é um plano utópico, onde se imagina que vamos ganhar todos os campeonatos. Nada disso. Podem observar que o crescimento da receita é muito pé no chão, temos muito chão para percorrer e ppara nos equipararmos a outros clubes", projetou.
O perfil da dívida bruta e a venda de ativos
Apesar da apresentação de Braz ter sido feita em 2021, os números foram referentes ao balanço financeiro de 2020. A primeira premissa citada por ele foi o perfil da dívida, que se divide em três grupos principais:
- Onerosa: provenientes especialmente de dívidas bancárias e obrigações trabalhistas e sociais;
- Não onerosa: oriundas do empréstimos dos apoiadores e investimento em atletas;
- Profut/Parcelamento de impostos: programas de refinanciamento de dívidas fiscais.
Em 2020, este era o perfil da dívida do Atlético:
- Onerosa (dívidas passadas, bancárias e processos Fifa): 42%;
- Não onerosa (empréstimos apoiadores): 36%;
- Profut/parcelamento de impostos: 22%.
Já em 2022, o endividamento ficou desta forma:
- Onerosa (operações de crédito): 47%;
- Não onerosa (empréstimos dos apoiadores, investimento em atletas, fornecedores e outros): 35%;
- Profut (programas de refinanciamento e dívidas fiscais): 18%.
Ou seja, é possível observar que o perfil da dívida do Atlético teve poucas alterações em termos porcentuais.
Em relação à venda de ativos, o Atlético concluiu a venda de 24,95% do Diamond Mall por R$ 170 milhões à Multiplan apenas no fim de março de 2023. Portanto, não houve entrada de recursos decorrentes da cessão do shopping em 2022.
Limite para a folha salarial
O Atlético estipulou um gasto máximo de R$ 200 milhões com folha salarial por ano, o que foi atingido em 2022, com o custo de R$ 194 milhões. Em 2021, no entanto, esta despesa foi de R$ 215 milhões, fazendo o clube utilizar R$ 9 milhões a mais da verba pretendida na média.
Teto de investimento para atletas/base
O teto para aquisições de atletas e investimentos em categoria de base por ano era de R$ 50 milhões. O número não foi revelado em 2021, mas chegou a R$ 112 milhões em 2022 - mais do que o dobro projetado.
"Podemos observar um aumento de R$ 259 milhões no endividamento líquido entre 2022 e 2021, sendo ocasionado substancialmente pelo investimento de R$ 112 milhões em atletas profissionais adquiridos, renovações contratuais e categorias de base com o intuito de manter o nível de competitividade da equipe (já líquido das receitas com transferências de atletas)", explicou o clube, no balanço financeiro de 2022.
Venda de atletas
Outro número importante para o Atlético seria conquistado com a venda de atletas. O objetivo era chegar a média de R$ 120 milhões arrecadados por ano, o que não foi atingido nas duas últimas temporadas.
Em 2021, R$ 99 milhões entraram nos cofres do clube, enquanto no ano passado foram R$ 88 milhões. Apesar disso, o Galo espera receber mais R$ 28 milhões, que podem ser reconhecidos em 2023.
Tempo de contrato
Este tópico é intangível. Ainda assim, é possível dizer que o Atlético não tem oferecido longo tempo de contrato a jogadores considerados mais experientes.
Do atual elenco, oito têm mais de 30 anos. O único com mais de dois anos de vínculo com o clube entre os jogadores de linha é o meio-campista Patrick, o mais novo deles.
Os contratos dos 'veteranos' do Atlético
- Everson (32 anos): 31/12/2025
- Mariano (36 anos): 31/12/2023
- Réver (38 anos): 31/12/2023
- Jemerson (30 anos): 31/12/2024
- Dodô (31 anos): 31/12/2023
- Edenilson (33 anos): 31/12/2024
- Patrick (30 anos): 31/12/2025
- Hulk (36 anos): 31/12/2024
- Vargas (33 anos): 31/12/2024
- Kardec (34 anos): 31/12/2024
Utilização e venda de jogadores da base
Uma outra premissa da diretoria alvinegra foi a maior utilização e venda de jogadores provindos da categoria da base. O objetivo era que 33% do elenco fosse formado pelas 'crias' do Galo, o que ainda não aconteceu.
Do atual grupo de 31 atletas, oito são da base: os goleiros Matheus Mendes e Gabriel Delfim; os zagueiros Jemerson e Nathan Silva; o lateral-esquerdo Rubens; o meia Paulo Vitor; e os atacantes Isaac e Cadu.
Isso representa 25% do elenco. No entanto, os três últimos têm sido utilizados frequentemente no Sub-20. Além disso, Jemerson e Nathan são atletas experientes que já passaram por outros times.
Quatro atletas formados na base foram vendidos pelo clube em 2022: Sávio (R$ 35,6 milhões), Guilherme Castilho (R$ 9,6 milhões), Calebe (R$ 6 milhões) e Micael (R$ 2,6 milhões). Apesar disso, não é possível dizer o total desses valores que entraram nos cofres do clube, já que algumas vendas são feitas de forma parcelada.
Alienações de bens e receita da Arena MRV
Por fim, Paulo Braz citou as alienações de bens e a receita bruta projetada da Arena MRV. No entanto, o clube não divulgou estes dados no último balanço financeiro.
A dívida do Atlético
Segundo o Atlético, o endividamento líquido é de R$ 1,571 bilhão. O clube não incluiu os R$ 440 milhões de um empréstimo para concluir as obras na Arena MRV. O passivo entrará no demonstrativo contábil do estádio, a ser publicado separadamente.
Com relação aos R$ 440 milhões da Arena MRV, o Atlético informa que já existe o recurso para quitar o valor. Será com o dinheiro proveniente da venda de cadeiras cativas e camarotes do estádio.
Na prática, os compradores das cadeiras cativas e dos camarotes pagam diretamente ao banco, que, por sua vez, libera a verba ao clube.
Se considerarmos o valor apresentado pelo Atlético, houve um aumento de R$ 259 milhões, 19% a mais em relação a 2021.
São R$ 104 milhões em juros, R$ 112 milhões em atletas adquiridos e R$ 29 milhões em provisões de contingência, além de R$ 14 milhões não detalhados. Segundo o alvinegro, os juros estão, em média, de 18% ao ano.