CEO da Arena MRV explica aumento de custos e revela valor total atualizado
Pandemia, inflação, mudanças no projeto e na infraestrutura, gastos com tecnologias e contrapartidas impactaram significativamente os custos da Arena MRV
Por Lucas Bretas, João Vitor Marques, Túlio Kaizer
02/09/2022 07:30
CEO da Arena MRV e do Atlético, Bruno Muzzi voltou a explicar os motivos que promoveram aumentos nos custos das obras do estádio e revelou o valor total atualizado da construção. Em relação ao orçamento inicial, que previa gasto de R$ 410 milhões, as obras passaram a custar R$ 950 milhões.
Ao comentar o aumento do custo das obras da futura casa do Galo, Bruno Muzzi relembrou o orçamento inicial, de R$ 410 milhões. O dirigente explicou que este se tratava de um projeto básico, sem sequer contar com as facilidades tecnológicas que a Arena MRV oferecerá aos torcedores.
"Lá atrás, eram R$ 250 milhões (da venda de 49,9% do Diamond Mall), R$ 60 milhões (venda de naming rights adquiridos pela MRV) e R$ 100 milhões (venda de cadeiras cativas). Naquele momento, os projetos eram conceituais. Era uma arena de 41 mil lugares. Com o passar do processo de licenciamento e até chegar no início das obras, esses 410 viraram R$ 650 milhões. E por que essa diferença nesse valor? Porque a gente tem correção financeira, de INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), tem a inflação do período que o INCC não corrige. A inflação foi muito maior. A gente tem os projetos que foram chegando num nível executivo, de forma que a gente pudesse de fato orçar. Nós tivemos diversas modificações de projetos com melhorias. Muitas melhorias. E a gente teve também diversas exigências legais para execução do projeto", explicou.
Custos com mudanças na estrutura
Acústica, caixas de detenção, reforço das lajes da esplanada, blocos de fundação, estacas, portas de cabines de banheiros, proteção passiva na estrutura e tipo de cobertura. Todos esses elementos sofreram mudanças em relação ao projeto inicial da Arena MRV e ocasionaram aumento no custo total das obras.
"Como por exemplo, acústica. Durante o processo de licenciamento, foi necessário que a Arena tivesse a proteção acústica. As caixas de detenção, que foram caixas que surgiram no processo de licenciamento. São caixas de dois milhões de litros. Só essa caixa é coisa de R$ 6, 7 milhões de reais. A gente teve o reforço das lajes da esplanada. A Prefeitura exigiu que a gente tivesse, nas caixas de escada, área verde ao redor. Foi uma das maiores discussões que eu tive, porque dentro do terreno, já temos área de preservação. As lajes saíram de 21 cm para 26 cm de espessura. Eu tive que reforçar os blocos de fundação e as estacas abaixo para poder suportar essa carga adicional - saiu de 600 kg por metro quadrado para 1.300 kg por metro quadrado", contou Muzzi.
"As portas das cabines passaram para 80 cm. A relocação das escadas de acesso às cabines de rádio, exigida pelo Corpo de Bombeiros. A gente precisou fazer proteção passiva na estrutura, em lugares que a gente achava que não precisava. O tipo de cobertura também, além da acústica, porque era em manta de TPO e precisamos fazer em telha metálica. Então, tivemos essas mudanças de materiais e projetos e ainda no meio de uma pandemia", completou.
Inflação e custos com mão de obra
Com a pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, diversos países do mundo sofreram com os efeitos de uma inflação elevada. Não foi diferente no Brasil. O aumento dos preços impactou também o setor de construção e, obviamente, a Arena MRV foi afetada por isso.
"A gente passou, no mundo inteiro, por um período de inflação elevadíssimo. A gente teve muito problema com incremento de material. Por exemplo: o aço. É um exemplo legal. Comprei 12 mil toneladas com o primeiro dinheiro que eu recebi da Multiplan (na casa de R$ 30 milhões). Comprei o aço praticamente inteiro da obra, pagando R$ 2,75 pelo kg. Hoje, isso chegou a bater R$ 9. Sairia de R$ 36 milhões para R$ 108 milhões. A gente tomou muitas medidas de antecipação para controlar isso, mas nem tudo a gente conseguiu", relembrou Muzzi.
A mão de obra, especialmente durante os primeiros meses da pandemia, também se tornou um desafio no processo de construção do estádio atleticano. Segundo Muzzi, as empresas parceiras "não conseguiam mobilizar gente".
"Tivemos incremento de custo de mão de obra, porque as empresas não conseguiam mobilizar gente. Então, somando inflação, correção contratual, as mudanças que fizemos no projeto para que ele melhorasse, as exigências legais, chegamos nesse valor de R$ 650 milhões. Aí você adiciona R$ 100 milhões, que foi uma escolha nossa, da jornada de tecnologia. Não dava para entregar uma arena em 2023 sem explorar isso. Senão, iríamos entregar um estádio dos anos 2000: sem conectividade, sem wifi, sem tela, sem nada. No projeto conceitual, não havia nada disso", justificou.
Valor total atualizado
Para além da "jornada de tecnologia", as obras da Arena MRV também incluíram contrapartidas ambientais, sociais e viárias, que encareceram - e muito - os custos totais. Com outros gastos, os valores chegam, atualmente, a R$ 950 milhões.
"Mais R$ 150 milhões de contrapartidas ambientais, sociais e viárias, que são além dessas necessárias para implementação do projeto de arquitetura. Estamos falando já em R$ 900 milhões. E temos R$ 50 milhões de outros gastos, que são processos de licenciamento, desapropriações para obras viárias. Uma série de custos. Hoje, estamos falando de uma obra de R$ 950 milhões. Essa é a estimativa", encerrou Muzzi.