O Atlético não poderia ter começado sua história no Campeonato Brasileiro de maneira mais bonita. Há exatos 50 anos, em 19 de dezembro de 1971, o Galo vencia o Botafogo em pleno Maracanã, por 1 a 0, e se tornava o primeiro campeão brasileiro levando-se em conta o nome adotado a partir daquele ano pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
Dará Maravilha, Renato, Oldair, Vantuir, Humberto Ramos e, claro, o mestre Telê Santana são alguns dos heróis da conquista que só se repetiu agora, em 2021, com Cuca, Hulk e companhia no também histórico bicampeonato.
O Galo, porém, começou aquele campeonato como mero coadjuvante diante de times que contavam com jogadores tricampeões da Copa do Mundo com a Seleção Brasileira, no México, um ano antes. Rivellino no Corinthians; Gérson no São Paulo; Pelé, Carlos Alberto Torres e Clodoaldo no Santos; Jairzinho no Botafogo; e Piazza e Tostão no Cruzeiro eram as grandes estrelas e puxavam o favoritismo para seus times
No início dos anos 1970 era comum o Campeonato Brasileiro ter uma fórmula a cada edição. E geralmente não era tão simples como é hoje a de pontos corridos. Em 1971, por exemplo, a fase de classificação contava com 20 times divididos em dois grupos. Os jogos eram em turno (entre as equipes da mesma chave) e returno (contra times da outra chave), sendo que os seis melhores de cada grupo avançavam na competição.
Na segunda fase, as 12 equipes foram distribuídas em três grupos com quatro cada. De novo houve dois turnos (agora somente dentro do próprio grupo) para se decidir o vencedor de cada chave. Atlético, São Paulo e Botafogo se garantiram na última e decisiva fase, o triangular final, que previa turno único.
No primeiro duelo da disputa pela taça, em 12 de dezembro, o Atlético venceu o São Paulo, no Mineirão, por 1 a 0, com gol de falta do volante Oldair. Três dias depois, uma quarta-feira, no Morumbi, o Tricolor goleou o Botafogo, por 4 a 1. Com o resultado, o time paulista precisava de uma vitória simples do Fogão sobre o Galo para ficar com o título no saldo de gols.
Hoje uma lenda viva do futebol, o atacante Dario marcou de cabeça o gol do título de campeão brasileiro naquele domingo, 19 de dezembro de 1971. Então conhecido como Peito de Aço, Dadá recebeu cruzamento pela esquerda do meia Humberto Ramos e cravou para sempre seu nome na memória e no coração da torcida. Líder em campo e fora dele, o capitão Oldair foi o responsável por erguer a taça.
Importância da torcida
A finalíssima no Rio de Janeiro contou com quase 20 mil atleticanos, segundo a revista Placar, nas arquibancadas do então jovem Maracanã, inaugurado em 1950 para a disputa da Copa do Mundo no Brasil.
Conhecida em todo o país pelo seu amor incondicional ao time, a torcida do Atlético lotava até os treinos no Estádio Antônio Carlos, em Lourdes, onde hoje é o shopping do clube, o Diamond Mall. Algumas das atividades aconteciam também na Vila Olímpica, clube social do Atlético, na Pampulha.
Treino do Atlético na Vila Olímpica em 1971, ano do título
A média de público do Galo nos 14 jogos no Mineirão, em 1971, ficou em 32.647 torcedores. Longe de Belo Horizonte, nos 13 duelos como visitante, os números também foram bons: 20.577 por partida. A média geral, então, ficou em 26.836.
O mestre
Campeão carioca treinando o Fluminense em 1969, Telê Santana teve sua chegada a Belo Horizonte noticiada pelo tradicional jornal Diário da Tarde em 30 de março de 1970: "Este é Telê, o novo técnico do Atlético". Em 7 de abril, realizou o primeiro treino.
Aos 38 anos, o jovem técnico comandou o Galo na conquista do Campeonato Mineiro daquele ano. Mas foi em 1971 que Telê chegaria a sua glória máxima com o Alvinegro.
Visto como um pai pelo elenco, ele tinha o respeito de todos justamente devido aos seus métodos de como lidar com os jogadores. Telê era ao mesmo tempo amigo e rigoroso. Ele não abria mão, por exemplo, da rigidez com o horário. "A caixinha" ficou famosa na época. O atleta que chegasse atrasado ao treino deveria depositar uma certa quantidade de dinheiro.
Oldair, falecido em 2014, era um dos que sempre exaltava a facilidade de Telê em se relacionar com os jogadores. Já Dadá o via como um professor, um mestre, por tê-lo ensinado a matar a bola no peito.
"O Galo só ganhou em 1971, porque, além de craques como Dadá e Humberto Ramos, tinha Nélson Campos como presidente e Telê como técnico", publicou o jornalista e escritor Roberto Drummond, em coluna no jornal Estado de Minas, em 2001. Famoso por obras como Hilda Furacão, Drummond era atleticano fanático.
Além do Brasileirão de 1971 e o Campeonato Mineiro de 1970, Telê levantou a taça do Estadual de 1988. Com três passagens pelo clube, ele é o técnico recordista à frente do Atlético com 434 partidas. Telê faleceu aos 74 anos, em 2006.
Festa em BH na chegada do Atlético, campeão brasileiro de 1971
CAMPANHA DO ATLÉTICO NO BRASILEIRO DE 1971
A campanha do Atlético contou com 12 vitórias, 10 empates e cinco derrotas. Foram 39 gols marcados e 22 contra.
FASE DE CLASSIFICAÇÃO
08/08 - Atlético 1 x 1 América - Mineirão
15/08 - Grêmio 1 x 1 Atlético - Olímpico
21/08 - Flamengo 0 x 1 Atlético - Maracanã
25/08 - Atlético 4 x 0 Bahia - Mineirão
28/08 - Sport 1 x 1 Atlético - Ilha do Retiro
01/09 - Atlético 2 x 0 São Paulo - Mineirão
05/09 - Atlético 2 x 1 Santos - Mineirão
08/09 - América-RJ 2 x 0 Atlético - Maracanã
12/09 - Atlético 2 x 2 Botafogo - Mineirão
19/09 - Ceará 0 x 2 Atlético - Presidente Vargas
25/09 - Atlético 2 x 2 Santa Cruz - Mineirão
03/10 - Coritiba 1 x 0 Atlético - Couto Pereira
22/09 - Corinthians 0 x 0 Atlético - Parque Antártica
10/10 - Atlético 1 x 1 Cruzeiro - Mineirão
16/10 - Fluminense 2 x 0 Atlético - Maracanã
23/10 - Atlético 5 x 1 Portuguesa - Mineirão
31/10 - Atlético 3 x 1 Internacional - Mineirão
06/11 - Vasco 0 x 0 Atlético - Maracanã
14/11 - Atlético 0 x 0 Palmeiras - Mineirão
Vitória do Atlético sobre o Inter, por 3 a 1, em 1971
2ª FASE
Grupo B
21/11 - Atlético 2 x 1 Vasco - Mineirão
25/11 - Santos 2 x 1 Atlético - Morumbi
28/11 - Internacional 1 x 4 Atlético - Beira-Rio
01/12 – Atlético 2 x 0 Santos – Mineirão
04/12 - Vasco 1 x 1 Atlético - Maracanã
09/12 - Atlético 0 x 1 Internacional - Mineirão
TRIANGULAR FINAL
12/12 - Atlético 1 x 0 São Paulo - Mineirão
15/12 - São Paulo 4 x 1 Botafogo - Morumbi
19/12 - Botafogo 0 x 1 Atlético - Maracanã
FICHAS TÉCNICAS DOS JOGOS DO TRIANGULAR FINAL
ATLÉTICO 1 X 0 SÃO PAULO Atlético
Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei Paiva, Humberto Ramos e Beto (Spencer); Ronaldo, Dario e Romeu (Tião).
Técnico: Telê Santana.
Técnico: Telê Santana.
São Paulo
Sérgio, Forlan, Samuel, Arlindo, Gilberto; Teodoro, Gérson, Edson (Everaldo), Terto; Toninho e Paraná.
Técnico: José Poy.
Gol: Oldair (30' do 2º tempo).
Motivo: final do Campeonato Brasileiro 1971
Data: domingo, 12 de dezembro de 1971
Local: Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Armando Marques (RJ)
Público: 53.903
BOTAFOGO 0 X 1 ATLÉTICO
Botafogo
Wendell; Mura, Djalma Dias, Queiróz e Valtencir; Carlos Roberto e Careca (Tuca); Zequinha, Marco Aurélio (Didinho), Jairzinho e Nei Oliveira
Técnico: Paraguaio
Atlético
Renato; Humberto, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lôla (Spencer), Dario e Tião
Técnico: Telê Santana
Gol: Dario (16` do 2º tempo)
Motivo: final do Campeonato Brasileiro 1971
Data: domingo, 19 de dezembro de 1971
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Armando Marques (RJ)
Público: 46.458
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