Aglomeração na Avenida das Palmeiras, entre o Mineirinho e o Mineirão (Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press)



"Toma cuidado, viu?". As palavras de despedida de uma torcedora do Atlético a um amigo que se encaminharia a outro setor do Mineirão eram um sinal de preocupação e contradiziam com perfeição o que era visto a metros da esplanada, onde o diálogo ocorreu. Do lado de fora do estádio, milhares de pessoas desrespeitavam as regras de distanciamento social e, sem máscara, formavam uma aglomeração não vista há 17 meses - tempo em que os eventos esportivos não puderam receber público em função da pandemia de COVID-19, que ainda aterroriza o Brasil. Nas arquibancadas, a bela festa dos 17.030 alvinegros empurrou o time na vitória por 3 a o nas quartas de final da Copa Libertadores contra o River Plate, mas provocou mais medo e tensão do que propriamente empolgação na noite desta quarta-feira.



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Quem tinha ingresso precisava de um teste negativo de coronavírus para entrar no estádio. Porém, muita gente sem bilhete foi ao local para participar dos "festejos" na Avenida das Palmeiras. Era uma tragédia anunciada, mas ignorada pelo poder público - que não vetou a entrada daqueles que não haviam comprado os tíquetes e que, obviamente, iriam ao local para matar a saudade do ambiente que não frequentavam desde março de 2020. Tudo isso no dia em que a taxa de transmissão da doença (Rt) chegou a 1,01 em Belo Horizonte, número acima do ideal.

Colegas de trabalho, Lucas Araújo e Vítor Elias foram juntos ao Mineirão (Foto: João Vitor Marques/Superesportes)



"Foi muito difícil decidir vir, porque a gente fica na corda bamba, entre a paixão pelo time e o medo da doença. Os indicadores melhoram, mas aí vem a nova variante Delta, e a gente fica indeciso. Mas a gente viu que as regras estavam bem seguras, com capacidade de 30% do estádio, todo mundo de máscara e com teste. Viemos com máscara boa e empolgados. Tomamos a decisão de vir, porque a falta de um joguinho há um ano e meio está grande", disse Vítor Elias, 22 anos, funcionário da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).



O jovem esteve no Mineirão naquele 7 de março de 2020, quando o Atlético venceu o Cruzeiro por 2 a 1, pelo Campeonato Mineiro. Foi a última vez da torcida alvinegra no Mineirão antes da noite desta quarta. Vitor costuma ir aos jogos do time acompanhado do pai, que preferiu se resguardar, já que ainda não tomou a segunda dose da vacina contra a COVID-19. Desta vez, esteve com o colega de trabalho Lucas Araújo, de 23 anos.




Há também aqueles que estavam há ainda mais tempo longe das arquibancadas. A estudante Maria Tereza, de 21 anos, não tinha uma boa recordação da última vez no Mineirão. Foi em 26 de setembro de 2019, na traumática eliminação nos pênaltis para o Colón na semifinal da Copa Sul-Americana.

"Tem muito tempo, foi em 2019. Decidi vir de última hora, até hoje de manhã eu não vinha, até pelo preço, que achei meio salgado, mas estou aqui. Decidi porque amo o Galo demais, estava com saudade. Estou tomando as precauções, me sentindo segura e estou aqui", disse. Ela teve a companhia de Ana Paula Furtado, Evandro Azevedo e Samuel Vieira na noite desta quarta. E deixou o Mineirão com um sentimento bem melhor que o da última vez.

Evandro Azevedo, Samuel Vieira, Ana Paula Furtado e Maria Tereza (Foto: João Vitor Marques/Superesportes)



Nas arquibancadas, festa e tensão


Quem estava do lado de fora do estádio bebendo e se aglomerando contrariou também as orientações para antecipar a entrada. Por isso, houve tumulto também na hora de ingressar nas arquibancadas.





As normas não foram seguidas nem fora e, por muitos, nem dentro do estádio. O grito em plenos pulmões de quem tanto sentiu falta de alentar o time de coração ecoava ainda mais forte, já que muita gente estava sem máscara. Vários espaços que deveriam estar livres - por conta das regras de distanciamento - eram ocupados pelos atleticanos.

Para os titulares Everson, Nathan Silva, Junior Alonso, Matías Zaracho, Eduardo Vargas e Hulk, foi a primeira vez com a torcida nas arquibancadas. Individualmente, foram saudados com gritos de apoio dos atleticanos, que repetiram os rituais de antes da pandemia. O hino, os gritos de guerra e as provocações ao rival Cruzeiro - que agoniza em um momento promissor do Atlético - foram emendados em sequência antes de a bola rolar.

Quando o jogo começou, o que se viu em campo foi uma equipe avassaladora na primeira etapa. Foram muitas as chances claras de gol até que Matías Zaracho, de voleio, e Hulk, encobrindo o goleiro Armani, fizeram explodir as arquibancadas. A vibração alvinegra fez tremer as tribunas de imprensa do Mineirão e deu mais energia ao time.




Em momento nenhum o River Plate ameaçou a classificação alvinegra. No segundo tempo, as arquibancadas foram espaço de festa e pouca preocupação. Gritos de "olé" e "mais um", além de um espetáculo com as luzes dos celulares, foram frequentes. "Vou Festejar", de Beth Carvalho, foi entoada logo cedo. É a música cantada pela torcida do Atlético quando o jogo já parece decidido. E estava mesmo.

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