Vagner Mancini quer uma equipe 'agressiva' em campo (Foto: Mourão Panda/América)

 

O América anunciou, no último sábado (19), a contratação do técnico Vagner Mancini, de 54 anos, para substituir Lisca - que pediu demissão. Qual o modelo de jogo do novo treinador do Coelho? Como foram seus últimos trabalhos? O Superesportes ouviu jornalistas que observaram de perto os projetos recentes do novo comandante do clube mineiro.




Dazn
Em entrevista de apresentação, Mancini prometeu um América 'extremamente agressivo' em todas as fases do jogo - não só atacando ou defendendo. O treinador valoriza a intensidade, especialmente para contra-atacar após a retomada da bola, e teve bons momentos em seus trabalhos mais recentes (Atlético-GO e Corinthians) a partir desta estratégia.

"Óbvio que ninguém é igual a ninguém. A gente vai tentar dar a nossa cara ao América. E qual é a cara do Mancini? Um time que seja extremamente agressivo. Agressivo não quer dizer ser um time que só ataca ou que só defende. É uma agressividade para se tomar a bola, para se marcar, para buscar o gol. Uma equipe que seja equilibrada, que saiba muito bem diante de quem está jogando, quando tem que ter uma superioridade no campo de ataque, quando tem que ter superioridade defensiva. Eu acho que quando você tem um time equilibrado, você começa a ver em todos os setores do campo, aquilo que todo mundo gosta de ver", explicou.

Corinthians

Treinador começou bem no Corinthians, mas saiu sem 'deixar saudade' (Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians)



Mancini assumiu um Corinthians em crise na 16ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2020. A equipe ocupava a zona de rebaixamento e somava apenas 15 pontos. O técnico terminou a competição em 12º lugar, com 51 pontos.



Na atual temporada, o 'sucesso' não se repetiu. O time não conseguiu a classificação na Copa Sul-Americana e foi eliminado pelo Palmeiras na semifinal do Campeonato Paulista. Ao todo, foram 45 jogos, 20 vitórias, 13 empates e 12 derrotas, com 54% de aproveitamento.

Rafael Esgrillis
Setorista do Corinthians na Rádio Tropical FM

Ele chegou com a missão de tirar o Corinthians da incômoda situação do rebaixamento. O time vem passando por crise financeira, tem dificuldades para efetuar contratações. Quando ele chegou ao Corinthians, foi obrigado a trabalhar com jovens jogadores junto com consagrados, como Cássio, Fagner, Ramiro, Gabriel, entre outros. O time já estava enfraquecido, então ele teve que trabalhar com um elenco inferior.

Em um primeiro momento, ele começou muito bem. Iniciou o trabalho com uma vitória por 1 a 0 sobre o Athletico-PR, que era um dos melhores times do Campeonato Brasileiro. Deu oportunidades a atletas que não vinham jogando. No começo, ele soube lidar com esse time, e o elenco comprou a ideia dele.




O principal objetivo era tirar o time do rebaixamento, e ele tirou. Mas, nas últimas rodadas, o time caiu de rendimento e ficou na 12ª colocação, o que frustrou muito o torcedor. Ele foi eliminado no Campeonato Paulista, não se classificou para a Libertadores e teve uma péssima campanha na Copa Sul-Americana.

A grande reclamação da torcida do Corinthians foi que ele não achou um padrão de jogo. Ele primeiro fez uma linha de quatro jogadores, depois buscou um esquema com três volantes, depois três zagueiros, ele tentou de tudo, mas não achou um padrão de jogo. Não tinha aquele time inicial que o torcedor sabe do goleiro ao ponta esquerda. Ele nunca foi unanimidade entre os torcedores. Muitos o enxergavam como um técnico muito abaixo da grandeza do clube. E alguns avaliavam a chegada dele como um técnico que sabe trabalhar com jovens atletas.

Acho que para o América chega um profissional muito interessado, com ideais de jogo, mas eu não sei se ele pode ter uma passagem muito longa no América, visto que ele fica pouco tempo nos clubes. Mas ele sabe trabalhar com jogadores da base, jovens. No Corinthians, ele não conseguiu extrair isso dos atletas e nem elevar o time a um patamar médio no cenário nacional.

Atlético-GO


No Dragão, Mancini teve um dos seus melhores trabalhos nos últimos anos (Foto: Divulgação/Atlético-GO)



O Dragão buscou Mancini para a disputa do Campeonato Brasileiro da última temporada, e o treinador assumiu o time antes da primeira rodada. Curiosamente, o técnico deixou o Atlético-GO na posição em que terminou com o Corinthias, a 12ª. Ao fim do torneio, o clube goiano ocupou a 13º colocação.

Mancini comandou o Atlético em 18 partidas, sendo 15 na Série A e três na Copa do Brasil (se classificou para as oitavas de final) com cinco vitórias, seis empates e sete derrotas, em um aproveitamento de 38%.

Nathalia Freitas
Setorista do Atlético-GO na Rádio Sagres, de Goiânia

O bom desempenho do Atlético-GO em 2020 começou ainda no início da temporada com o trabalho da comissão permanente e, posteriormente, também com a chegada do Cristóvão Borges, que durou pouco tempo. A comissão continuou a preparação do elenco durante a pandemia até a contratação do Mancini, em julho.

O time já estava encaixado, fazendo grandes jogos antes da paralisação, mas o Mancini chegou e modificou algumas peças. Junto com essas mudanças ele implementou um estilo de jogo 'corajoso', como gostavam de dizer aqui. O Atlético-GO enfrentava os seus adversários de igual para igual. Não tinha medo de enfrentar Corinthians, Flamengo, Fluminense, São Paulo... Essa era a filosofia que o Mancini pregava.




As dificuldades que o time teve dentro de campo foram contra times que jogavam mais fechados. O Atlético-GO tinha um pouco de dificuldade em propor o jogo e se dava melhor contra equipes que jogavam e buscavam o gol. O time sempre teve uma transição muito rápida que era facilitada pela ótima visão de jogo e qualidade de seus jogadores de meio-campo.

Um destaque, além dos resultados, foi o fato de ter perdido jogadores importantes e mesmo assim foi conseguindo manter o nível das atuações. Ele Jogou sempre no 4-2-3-1 e não abria mão de jogar com dois pontas abertos. 

Como tinha o Jean no gol, gostava de valorizar a saída de bola com os pés.

Mancini saiu com as portas abertas e com o desejo da diretoria de sua permanência. Tem o mérito maior na campanha do ACG no Brasileirão passado, mesmo tendo saído no meio da competição, porque dão à ele o crédito da filosofia de jogo colocada dentro das 4 linhas.




Modelo de jogo

Guilherme Ramos
Jornalista e analista de desempenho

O contexto em que o Mancini chega no Corinthians era a 16ª rodada, com o time brigando para sair da zona de rebaixamento. O principal ponto do começo do trabalho foi "fazer o que os jogadores queriam". O Fagner tinha dado entrevista dizendo que o elenco estava muito mais acostumado a jogar sem a bola, em bloco mais baixo, em transição - era assim com o Carille, quando o Corinthians foi campeão brasileiro.

O Mancini chega e dá o que os jogadores querem. É um time que começa a defender muito mais baixo, defende em 4-4-2, às vezes 4-5-1. Dessa maneira, ele 'arruma a casa'. O time passa a tomar menos gols e ter resultados. Ele tem algumas sacadas positivas. Resgatou alguns jogadores e deu oportunidade para outros da base, ganhando apelo da torcida. Não era um time especialista em contra-ataque, mas tinha uma transição mais rápida.

Um ponto foi que ele nunca conseguiu achar um meio-campo ideal, coeso, que conseguisse reter a bola, de fato. De modo geral, ele termina o campeonato muito bem (no sentido de colocação). As últimas rodadas foram ruins, mas empatou em pontuação com o Bragantino, por exemplo. Foi um trabalho 'ok'.




A maior bronca foi no Paulista. Ele pegou muitos times contra os quais precisava propor o jogo e não conseguiu de jeito nenhum. Contra times menores, que esperavam lá atrás, ele não conseguia promover mecanismos que fizessem o Corinthians progredir em campo de forma coesa. 

Aos poucos, também, foi atendendo a alguns pedidos da torcida. Em algum momento, a torcida não parava de pedir três zagueiros, e ele fez isso em seus últimos jogos. Estava tentando implementar uma nova ideia - até o Cássio saía um pouco mais com os pés. Ainda assim, mecanismos muito falhos ou mal treinados. Não deu tempo, e ele foi demitido. Não conseguiu subir o degrau do que terminou o Brasileiro. Era um time que não sabia propor. Caiu muito de produção no Paulista e, por isso, ele perdeu o emprego.

Ele tinha peças interessantes para um time se defender bem, em bloco baixo, ter algumas zonas pressionantes e sair em transição. Eu suponho que, nesse sentido, até possa casar com o elenco do América.




Ficha técnica

Nome: Vagner Carmo Mancini
Data de nascimento: 24/10/1966, em Ribeirão Preto, SP
Clubes e desempenho:

Paulista (2004 a 2007): 113 jogos, 47 vitórias, 30 empates e 36 derrotas
Al-Nasr (2005 a 2007)*
Grêmio (2008)*
Vitória (2008 e 2009)*
Santos (2009)*
Vasco (2010)*
Guarani (2010): 63 jogos, 18 vitórias, 18 empates e 27 derrotas
Ceará (2011): 7 jogos, 4 vitórias e 3 derrotas
Cruzeiro (2011 a 2012): 32 jogos, 15 vitórias, 7 empates e 10 derrotas
Sport (2012): 16 jogos, 3 vitórias, 5 empates e 8 derrotas
Athletico-PR (2013): 42 jogos, 20 vitórias, 12 empates e 10 derrotas
Náutico (2013): 10 jogos, 6 vitórias e 4 derrotas
Botafogo (2014): 42 jogos, 10 vitórias, 7 empates e 25 derrotas
Vitória (2015 e 2016): 76 jogos, 33 vitórias, 19 empates e 24 derrotas
Chapecoense (2017): 43 jogos, 20 vitórias, 9 empates e 14 derrotas
Vitória (2017 e 2018): 63 jogos, 28 vitórias, 14 empates e 14 derrotas
São Paulo (2019): 7 jogos, 2 vitórias, 3 empates e 2 derrotas
Atlético (2019): 13 jogos, 4 vitórias, 5 empates e 4 derrotas
Atlético-GO (2020): 18 jogos, 5 vitórias, 6 empates e 7 derrotas
Corinthians (2020 e 2021): 45 jogos, 20 vitórias, 13 empates e 12 derrotas

*Não foram encontrados números completos

Títulos: Copa do Brasil: 2005 (Paulista), Campeonato Baiano: 2008 e 2016 (Vitória), Campeonato Cearense: 2011 (Ceará), Campeonato Catarinense: 2017 (Chapecoense).