João Carlos lembra demissão de Edmundo no vestiário após ira de Zezé Perrella com pênalti perdido diante do Vasco (Foto: Superesportes)


Dezoito anos antes do atrito público com Thiago Neves, em 2019, que gerou o meme 'Fala, Zezé', o ex-presidente Zezé Perrella, do Cruzeiro, protagonizou uma polêmica com outra estrela do futebol nacional. Em 3 de outubro de 2001, o dirigente demitiu o atacante Edmundo no vestiário após a perda de um pênalti na derrota por 3 a 0 para o Vasco, em São Januário, pelo Campeonato Brasileiro.





Edmundo é consolado por Hélton após perder pênalti contra o Vasco em São Januário (Foto: Hipolito Pereira/Agencia O Globo - 03/10/2001 (Arquivo EM))



O Vasco vencia a partida com três gols de Romário. Edmundo, que tinha iniciado no banco, foi acionado e teve a chance de diminuir a diferença numa cobrança de pênalti. Depois de uma conversa com o goleiro cruz-maltino Hélton, o Animal bateu no canto esquerdo e teve a penalidade defendida. Sorín perdeu o rebote.

Edmundo foi saudado pela torcida do Vasco em São Januário naquele jogo, mesmo vestindo a camisa do Cruzeiro (Foto: PAULO NICOLELLA/AJB - 03/10/2001 (Arquivo EM))



Para Perrella, o lance foi encarado como um erro proposital de Edmundo, de modo a não chatear os torcedores que gritaram o nome dele em São Januário naquela tarde. Decidido, Zezé demitiu o atacante no vestiário, diante de todo o elenco.

Cartaz da torcida do Vasco para Edmundo no duelo contra o Cruzeiro (Foto: Hipolito Pereira/Agencia O Globo - 091 - Rio, 03/10/2001 (Arquivo EM))



Titular naquela partida e 'testemunha ocular' da demissão de Edmundo, o ex-zagueiro João Carlos contou, ao Superesportes, durante entrevista ao quadro Por onde anda?, como foi o climão no vestiário celeste.




"Eu lembro desse jogo. Estava nele, contra o Vasco, em São Januário. Me recordo do pênalti que o Edmundo bateu. Lembro que, entrando no vestiário, ficou todo mundo sentado, e o Edmundo de cabeça baixa. O Perrella entrou, apontou para ele e falou: 'Você não faz parte mais desse plantel. Nem para Belo Horizonte você volta, só se for por sua conta. Dentro da Toca você não entra, não veste mais essa camisa. Tira esse uniforme agora, porque você não é digno de vestir esse uniforme."

"Nós, jogadores, ficamos espantados com a maneira que ele falou, mas nós sabíamos tudo que tinha acontecido. Ele (Edmundo) tirou o uniforme, pegou na mão de todo mundo, despediu e foi embora", relembrou João Carlos.

Edmundo e João Carlos em treino na Toca da Raposa I, em 2001 (Foto: Arquivo Estado de Minas/EM/DAPress)



O ex-defensor recorda que Perrella, mesmo baixinho, era topetudo e tinha muita personalidade para encarar as estrelas do futebol. "(Perrella era) muito firme, muito. Ele comandava, tinha o comando na mão dele, de tudo. Era um presidente que realmente se impunha nas coisas dele, da maneira dele, e todo mundo respeitava".



Em 4 de outubro de 2001, dia seguinte ao jogo, Zezé Perrella concedeu entrevista para falar sobre o afastamento definitivo de Edmundo (Foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas - 04/10/2001)



Reencontro no Japão


Edmundo deixou o Cruzeiro e se transferiu para o Tokyo Verdy, do Japão. Em 2002, João Carlos reencontrou o ex-companheiro no país oriental, uma vez que acertou com o Vissel Kobe. O defensor conta que evitou falar daquela demissão polêmica com o Animal.

"Eu encontrei com ele depois, no Japão. Encontrei com ele lá, nós conversamos, mas não tocou em assunto de Cruzeiro, eu também não. Conversamos outras coisas. Tive outras oportunidades de conversar com ele, mas (ele) nunca tocou em assunto de Cruzeiro", completou João Carlos.

Edmundo alega displicência


Em 2012, em entrevista ao Superesportes, Edmundo relembrou o pênalti perdido pelo Cruzeiro e alegou apenas "displicência" no lance diante de Hélton.




"Foi displicência, não foi de propósito. Eu estava triste porque tinha ficado no banco pela primeira vez na minha carreira. E tudo por causa de um mal entendido. A imprensa de Minas me perguntou se eu preferia o Luxemburgo ou o Marco Aurélio. Respondi Luxemburgo. O Marco Aurélio foi contratado e me colocou no banco. O Vasco já vencia por 3 a 0 o jogo e eu bati com displicência. Só quem se prejudicou fui eu", disse Edmundo.

O jogador deixou o campo ovacionado pelos torcedores vascaínos e correspondeu ao carinho, acenando para a torcida.

Edmundo e João Carlos durante treino na Toca da Raposa I, em 2001 (Foto: Arquivo Estado de Minas)



O fatídico ano de 2001


Por Gilmar Laignier
Edmundo fazia parte de um time do Cruzeiro repleto de estrelas, como Rincón, Alex e Sorín, que acabou fracassando na temporada. De favorito a todos os títulos e com o melhor treinador do Brasil no início do ano (Luiz Felipe Scolari), o clube celeste terminou o Brasileiro na 21ª colocação e foi eliminado nas quartas de final da Libertadores.

Ao todo, quatro técnicos passaram pela Toca naquela temporada: Felipão, Paulo Cezar Carpegiani, Ivo Wortmann e Marco Aurélio. Além das estrelas Edmundo, Alex, Rincón e Sorín, os treinadores tinham em mãos um bom elenco, com jovens como o lateral Maicon, o zagueiro Luisão e o meia Jorge Wagner, além do volante Ricardinho.




A Copa Sul-Minas, no primeiro semestre, foi a única conquista da temporada.

Confira a ficha do jogo que marcou a demissão de Edmundo do Cruzeiro!

Vasco 3 x 0 Cruzeiro


Vasco

Hélton, Rafael (André Ladaga), Géder, Odvan e Gilberto; Donizete Oliveira, Jamir, Fabiano Eller e Botti (Bebeto); Euller e Romário (Paulo César).
Técnico: Hélio dos Anjos

Cruzeiro

André, Maicon, João Carlos, Luisão e Sorín; Marcus Vinicius, Cléber Monteiro (Edmundo), Rincón e Alex; Adriano Chuva (Oséas) e Jorge Wagner.
Técnico: Marco Aurélio

Motivo: Campeonato Brasileiro
Data: 03/10/2001
Estádio: São Januário, no Rio de Janeiro
Público: 7.508 pagantes
Árbitro: Fabiano Gonçalves (RS)
Gols: Romário (p) aos 20 do primeiro tempo, Romário aos 20 do 2º e Romário aos 38.
Cartão vermelho: Rincón