Procópio é um dos zagueiros históricos dos cem anos do Cruzeiro (Foto: EM/D. A Press)

O menino saiu de sua terra, Salinas, e foi para Belo Horizonte estudar. O pai era promotor público da cidade do Norte de Minas e tinha sido assassinado. O avô, então, assumiu a família e decidiu que o melhor para o neto era ficar longe de onde nascera. Na capital, foi interno no Colégio Batista. Assim começou a história de um dos zagueiros do time campeão da Taça Brasil em 1966, Procópio Cardoso Neto, ou simplesmente Procópio, hoje com 81 anos.




“Eu me lembro da Copa de 1950. Assisti à derrota da Inglaterra para os EUA, por 1 a 0, no Independência, a maior zebra de todos os tempos. Depois assisti Uruguai 8 x 0 Bolívia. Fiquei fascinado com o Schiaffino (meia uruguaio), tanto que sonhei com ele por seis meses, principalmente depois de ter vencido o Brasil na final daquela Copa”, conta Procópio.

Com 13 anos, Procópio também resolveu tentar a sorte no futebol. Foi para o Atlético. Era centroavante. “Nem pensava em ser zagueiro”, diz. “Eu ia a pé do Colégio até Lourdes para treinar. Era muito sacrificante. Eu não tinha dinheiro”. Quatro anos depois, decidiu mudar de time. Foi para o Renascença, mais perto da escola. “Aí ficou mais fácil, pois tomava um bonde, que passava em frente ao colégio e ia até a fábrica, que era em frente ao campo de treinamento”.

Pelo Renascença, Procópio disputou o Campeonato Mineiro sob o comando de Gérson dos Santos. Aliás, foi esse treinador que fez com que Procópio se transformasse em zagueiro. “Teve um dia, num treino, que não tinha zaga para treinar no time reserva. Ele então me colocou na quarta-zaga e treinou de central. Ele e eu juntos na defesa. E olha que eu já tinha sido artilheiro do Mineiro juvenil. Imagina só virar beque?”, lembra.





As atuações de Procópio na competição chamaram a atenção de dirigentes do Cruzeiro, que o contrataram em 1959. No clube celeste, encontrou-se com Lazzarotti, Sabu e novamente com o técnico Gérson dos Santos.

Em 1961, no entanto, o Cruzeiro vendeu Procópio ao São Paulo. “Não gostava de lá. Vivia sozinho, sem companhia. Era muito frio. Mas eu já namorava a irmã do William (também zagueiro do Atlético). Resolvi casar e, para isso, tinha de voltar a Belo Horizonte. Fui, então, emprestado ao Atlético. O Cruzeiro estava prestes a ser tetra. Quebramos a hegemonia”.

Procópio celebra título de campeão brasileiro pela Seleção Mineira em 1963 (Foto: EM/D. A Press)



No ano de 1963, Procópio se tornou campeão brasileiro jogando pela Seleção Mineira. “Era um timaço. O Marcial era o goleiro. Meu parceiro de zaga era meu cunhado William, que, aliás, era meu companheiro de defesa no Atlético.”




Ao receber o troféu de campeão brasileiro, Procópio recebeu a notícia de que estava negociado com o Fluminense. Foi campeão carioca e ainda passou por Vitória, Palmeiras e Atlético até retornar ao Cruzeiro, em 1966.

A saída do Atlético se deu por um desentendimento.  “Eduardo Magalhães Pinto era o presidente do Atlético. Ele foi a São Paulo e comprou meu passe. Mas depois de um jogo contra o Renascença, o qual ganhamos por 2 a 0, um diretor entrou no vestiário xingando e dizendo que a gente tinha de estar no campo às 7h do dia seguinte para treinar e aprender a jogar. Tudo porque o Cruzeiro havia goleado o Renascença dias antes por 5 a 0.” Foi o estopim para Procópio. Capitão do time, ele ficou revoltado e tomou as dores dos demais jogadores. “Gritei com o diretor, corri atrás dele e chutei a bunda dele. Resultado: saí do Atlético.”

Afastado do time por conta da briga, Procópio despertou interesse do Flamengo, do Vitória, onde já havia atuado, e do Santos. Mas um convite para voltar ao Cruzeiro, feito pelo então presidente Felício Brandi, o convenceu rapidamente. “Como não queria sair de Belo Horizonte, respondi que sim. Ele comprou o meu passe, que não era do Atlético, mas sim do Banco Nacional.”



Procópio integrou time histórico do Cruzeiro campeão da Taça Brasil de 1966 (Foto: EM/D. A Press)



Na chegada ao Cruzeiro, o zagueiro ainda indicou o atacante Evaldo, com quem tinha jogado no Fluminense. Estava então formada a equipe que seria campeã da Taça Brasil sobre o poderoso Santos de Pelé, em 1966. “O time era demais. Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Evaldo, Hilton Oliveira, Piazza, Neco, William, Pedro Paulo, Raul”.

“A conquista da Taça Brasil foi um achado. Ganhamos por 6 a 2 aqui no Mineirão e por 3 a 2 lá no Pacaembu, em São Paulo. Só um time com aqueles jogadores poderia ganhar do Santos, de Pelé, o maior time do mundo na época. Fui muito feliz em ter feito parte daquela equipe e que até hoje é lembrada”, recorda Procópio.

Procópio sofreu grave lesão no joelho esquerdo em 13 de outubro de 1968, em jogo contra o Santos, no Morumbi, pelo Robertão (Foto: EM/D. A Press)



Procópio disputou 131 jogos pelo Cruzeiro e marcou seis gols. Foi campeão da Taça Brasil de 1966 e hexacampeão mineiro em 1959, 60, 61, 67, 68 e 73. A carreira do defensor foi interrompida entre outubro de 1968 e 1973 devido a uma grave lesão no joelho esquerdo causada por uma entrada violenta de Pelé. Procópio retomou a carreira no Cruzeiro e a encerrou em 1974 sendo vice-campeão brasileiro diante do Vasco.

Procópio ainda dirigiu o Cruzeiro em 1978 e 1981 (foto acima) (Foto: EM/D. A Press)