A esta altura já está todo mundo de saco cheio de ouvir e falar os motivos pelos quais o Brasil saiu mais cedo da Copa do Mundo, frustrando de novo (a quinta vez em 20 anos) a expectativa e a torcida brasileira. Todo mundo parece ter uma explicação, e a maior parte delas faz todo o sentido, agora que a água derramou e o sonho virou poeira.
O Neymar deveria ter batido pênalti? Deveria! A defesa deveria estar postada nos últimos minutos, vencendo o jogo por um a zero? Deveria. O Tite não deveria ter tirado o Vinicius Jr.? Não deveria. O Rodrygo não deveria ter sido o primeiro batedor? Não! O treinador poderia ter feito como o Zagallo em 94, e levado confiança a cada um naquele momento crítico? Sim!
Mas, como sabemos, nenhuma dessas variáveis (que, diga-se, seriam garantias absolutas de vitória) foi colocada em prática. Então, jamais saberemos de verdade o que teria acontecido.
E é um ritual brasileiro encontrar a curvinha que faltou para chegarmos ao destino que já estava lá, nos esperando.
Foi o Zagallo negligenciando a Holanda em 1974, foi a trapaça Argentina x Peru, que terminou 6 a 0 para os donos da casa em 1978. Foi o Júnior dando condição legal ao Paulo Rossi em 1982. O Zico que perdeu o pênalti durante o jogo, em 1986 O Lazaroni que escalou o Dunga em 1990... Foi o Ronaldo tendo convulsão em 1998. Foi o Roberto Carlos arrumando o meião em 2006, e o Júlio Cesar batendo cabeça com o Felipe Mello no gol da Holanda em 2010. Foi o Neymar ter quebrado as costas e o Felipão ter escalado o Bernard em vez do William em 2014. Foi o Renato Augusto perdendo gol cara a cara contra a Bélgica em 2018...
Sempre assim. Sempre um pequeno detalhe para estragar o roteiro que já estava escrito.
Acontece que perder é um evento muito mais comum na natureza do que vencer. É simples. Por isso celebramos as vitórias e, se tivermos sorte, aprendemos com as derrotas.
Mas a Copa do Mundo é muito mais que isso. É uma indústria de imagens inesquecíveis. Nem só as tristes, como as que falei acima, nem só as de celebrações de quem ergueu a taça. Mas de momentos inspiradores
.
Como o do Boufal, jogador do Marrocos que levou a mãe para dançar no gramado após a vitória sobre Portugal e realizou ali o que bilhões de seres humanos gostariam de fazer, agradecendo quem lhes deu a vida e muitas vezes abriu mão da própria, para que ele conseguisse algo.
Ou a do Neymar abraçando o filhinho do croata Perisic após a derrota, num gesto de ternura que diz que, apesar da dor, é preciso ter movimentos de amor, ou ainda do choro compulsivo de alegria dos sauditas ao vencerem o jogo de suas vidas, mostrando que alegria, emoção e gratidão não escolhem portas para entrar, mas moram onde são convidadas a estar, independentemente de credo, etnia, geopolítica ou qualquer outra coisa.
Cada Copa marca imagens no coração da gente. E cada um guarda o que é mais relevante e impactante de maneiras diferentes. E eu termino perguntando para você. A Copa ainda não acabou, mas que imagem você vai levar dessa edição de 2022?
Assim como jamais saberemos se qualquer mudança de atitude teria levado com certeza o Brasil ao título, neste momento também não há como saber se o momento mais icônico desse ano já aconteceu ou ainda está por acontecer.
Não por acaso, parece a vida, né?