Bob Faria: É hora de o Cruzeiro se preparar para o próximo desafio (Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DAPress)



Vou transcrever aqui, com a devida autorização, e sem expor o @ do autor, uma mensagem que recebi dia desses no direct do meu Instagram.



"Caro Bob, acompanho seu trabalho há algum tempo e gosto muito dos seus comentários e análises. Fiquei surpreso com o lado mais descontraído que você está demonstrando na rádio 98. Acompanhei também a sua entrevista ao podcast Flow e achei muito legal você falar de outros assuntos.



Fiquei surpreso que goste de robótica. Então, como disse, gosto das suas análises, mas gostaria de discordar de um de seus comentários feitos recentemente quando disse que o Cruzeiro não tinha mais motivos para se esforçar na temporada, já que alcançou todos os objetivos.

Acho que só o fato de vestir a camisa do Cruzeiro já seria motivo suficiente para eles tentarem ganhar todos os jogos. Você não acha ? Grande abraço."

Meu caro, antes de tudo, preciso agradecer pela sua mensagem e pela autorização em reproduzi-la aqui. Suas palavras me fizeram refletir, como aliás todas as palavras que recebo, quando são respeitosas e ponderadas, me fazem.

Mas gostaria de pontuar algumas coisas. Se bem me lembro, eu não disse que o Cruzeiro não teria motivos para se esforçar. A palavra que usei foi motivação, e no contexto, pelo menos na minha cabeça, elas não são sinônimas. Motivo, seria a razão pela qual se deve fazer alguma coisa. Motivação seria o desejo de fazer. Os professores de etimologia podem até brigar comigo, mas na minha cabeça faz sentido.




Então, claro que vestir a camisa do clube que os paga, ir para o treino, ir para o jogo, respeitar as regras, se apresentar diante do torcedor que pagou ingresso, todos esses são motivos para os atletas jogarem os últimos jogos da competição. Mas daí a tentar encontrar neles motivação para manter a intensidade de jogo que tinham enquanto estavam buscando as metas da temporada, vai uma distância longa.

Volto a dizer, é da natureza humana relaxar após a conquista árdua de um objetivo. Pelo menos por algum tempo, até que outro desafio lhe seja apresentado. E o desgaste físico e emocional de uma temporada como a que o Cruzeiro fez em 2022 é gigantesco. 

Houve claramente uma desmobilização e perda de foco, porque o objeto de conquista já foi ultrapassado. Então não é uma questão de ter motivos para cumprir a tabela. Basta acionar a "gaveta" do profissionalismo, e todos estarão lá fazendo o melhor que puderem fazer. Porém, é compreensível, eles não terão a motivação necessária para manter a intensidade de jogo. Enquanto os outros clubes continuam em busca do objetivo mínimo, ou seja, continuam mobilizados!

Outro dia, no FDP98, tive o privilégio de entrevistar um super atleta. Gustavo Ziller, que entre outras tantas coisas que faz, é montanhista da elite mundial e que esteve simplesmente no topo do monte Everest, a montanha mais alta do mundo! Na entrevista, corroborei algumas das minhas impressões mais antigas sobre o esporte de alto nível. Grande parte do sucesso está na capacidade mental de se lidar com o desafio. Ziller nos contou que mais que preparo físico (embora esse seja extremamente importante), o preparo emocional para transpor o que vai encontrar pelo caminho. No caso dele, em alguns momentos, literalmente a face da morte, representada pelos corpos de atletas que ficaram pelo caminho e que se quedarão eternamente abraçados pela montanha. 




Mas o que mais me surpreendeu, e faz todo o sentido porque é uma conclusão simples quando você pensa a respeito, é que mais difícil do que chegar ao topo de um lugar como o Everest, é sair de lá com vida. E frequentemente a descida é a parte mais desafiadora. 

Ou seja, a desmobilização só acontece quando se está novamente são e salvo. Aí é hora de relaxar e armazenar o que se aprendeu com a experiência.  Não há razão para querer imediatamente escalar de novo. É preciso reiniciar o ciclo.

A analogia serve. O Cruzeiro está são e salvo dos objetivos da temporada. Atacou o cume da competição e saiu de lá vivo. É hora de guardar o que aprendeu e se preparar para o próximo desafio. E este será apenas na próxima temporada. Não há mais motivação para gastar esse ano.