Bob Faria: 'O time do Atlético perdeu seu rendimento num processo, e vai precisar de outro para recuperá-lo' (Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DAPress)



Aqui da minha janela, enquanto escrevo, posso observar algumas aves voando. São urubus. Não são as aves mais belas do mundo, nem as mais simpáticas. Mas trazem em si uma destreza que seria muito útil aos humanos. E não me refiro à capacidade de voar, mas à capacidade de basear seu voo no fluxo da natureza. Os urubus voam em círculos, aproveitando as correntes de ar quente, deixando-se levar e economizando energia para utilizar quando é realmente necessário. Muitas aves fazem isso, eu sei, mas estou vendo urubus, então são eles que me fazem refletir neste instante.




A vida, ao contrário dos nossos desejos digitais, é um processo lento, linear e impulsionado por forças muito maiores do que as que conseguimos compreender. Seria tão lindo tudo se resolvesse ao pressionar de um botão. Seria tão conveniente se nossas dores e desconfortos silenciassem numa tecla "mute". Ah, que delícia seria se a cada erro pudéssemos usar o "desfazer", como num processador de texto igual a esse que estou usando agora. Mas não é assim que a banda toca. 

Como já disse, viver é um processo linear e frequentemente sem controle, cujas razões nem sempre conseguimos compreender. E é aí que volto aos urubus, que certamente não sabem como ou porque se formam as correntes de ar que o erguem a altitudes de onde podem ver e farejar seu alimento, mas usufruem dessa dádiva sem questionamento.

Tivéssemos nós essa capacidade metafísica de usufruir do fluxo das coisas, em vez de querer que tudo se resolva automaticamente ao pressionar de uma tecla, ou ao deslizar de um dedo, talvez não sofrêssemos tanto com a nossa evidente incapacidade de perceber que tudo, quando se trata de transformação, adaptação ou aprendizado, tudo leva algum tempo. E esse é nosso dilema moderno. Porque a vida continua querendo voar como os urubus, seguindo as correntes de ar, e nós queremos voar como águias, acelerando, mudando de direção, e mergulhando a velocidades estonteantes como se não houvesse amanhã.




E o que isso tem a ver com futebol? Para mim, que tiro meu sustento da habilidade de observar futebol e encontrar sentido nessa arte, tudo.

Muita gente ficou decepcionada com a derrota do Atlético para o Internacional. Nem tanto pelo resultado, mas pela forma como se deu. Porque o que se esperava era um time completamente diferente daquele que vinha se apresentando sob a batuta do Turco Mohamed. Muita gente acreditava que o simples fato de o Cuca reassumir o comando da equipe traria de volta aquele desempenho de 2021. E não foi isso que se viu. Os problemas continuaram e o resultado foi a derrota.

Sinto dizer, mas isso é absolutamente natural. Nada se transforma consistentemente sem passar por um processo. O time perdeu seu rendimento num processo, e vai precisar de outro para recuperá-lo. Como tudo na vida.