Seleções estão em busca de vagas no Mundial e nos Jogos Olímpicos (Foto: Thierry Gozzer/CBB)

As seleções brasileiras de basquete passam por um momento de mudanças e readequação após não participarem dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Enquanto o feminino busca reacender no cenário internacional depois de também ficar de fora do Mundial em 2018, o masculino passa por uma nova drástica mudança de gerações. Ambos têm um objetivo em comum: retomar a competitividade olímpica e organizar o cenário nacional.




O Superesportes conversou com duas personalidades do basquete brasileiro a respeito deste esporte no país: Magic Paula e Janeth Arcain, ex-jogadoras que foram campeãs mundiais com a Seleção Brasileira em 1994 e vice-campeãs olímpicas em 1996. Paula é, desde março deste ano, é vice-presidente da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e diretora do basquete feminino na entidade, e avalia como uma "missão difícil" gerir o basquete feminino nacional.

"É uma missão difícil, posso te confessar, porque é uma entidade que vem passando há alguns anos de dificuldades financeiras, um legado aí que essa gestão acabou absorvendo, e a gente aos poucos está tentando recuperar, reconstruir. A gente só reconstrói com parcerias, acho que a própria realização do Brasileiro foi algo que nós só conseguimos fazer com envolvimento dos clubes, do CBC, acho que foi um momento especial de a gente ter 16 equipes, 190 meninas espalhadas por este Brasil que não jogavam, entendeu? E, assim, meninas que não jogavam LBF, os clubes às vezes não conseguem bancar o custo da LBF, então acho que aos poucos a gente tem que ir construindo as coisas", afirmou.

Paula foi introduzida no Hall da Fama do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na última terça (Foto: Gaspar Nóbrega/COB)

O basquete feminino nacional se encaminha agora para a disputa da Liga de Basquete Feminino (LBF) de 2022, após passar pelo Brasileirão Feminino - competição de segundo escalão, encerrado em novembro deste ano - e estaduais - o Paulista, principal torneio estadual do país, terminou em dezembro. Já a Seleção Brasileira, formada em sua maioria de atletas da LBF e do basquete europeu e que tem como estrela a ala-pivô Damiris Dantas, do Minnesota Lynx, da WNBA, prepara-se para a disputa do Pré-Mundial visando à Copa de 2022.




Entre 10 e 13 de fevereiro, em Belgrado, o Brasil entra em quadra contra Austrália (já classificada para o Mundial por ser país-sede do Mundial de 2022), Coreia do Sul e Sérvia. Dois times se classificam.

"Nós temos aí pela frente um Pré-Mundial, onde nós vamos ter cinco dias de treinos, poucos dias de treino, porque as meninas são liberadas pela janela da FIBA só no dia 6, competição começa no dia 10. Então, assim, é um desafio, estou lá desde março, mas eu acho que muita coisa está acontecendo, muita coisa vai acontecer, e a gente tem que acreditar nisso", diz Paula.

Janeth Arcain recebeu o troféu Adhemar Ferreira da Silva, que homenageia atletas e ex-atletas que representem os valores olímpicos, do COB na última terça (Foto: Wander Roberto/COB)

Janeth, que também conquistou o bronze olímpico na Olimpíada de 2000, em Sydney, na Austrália, e foi tetracampeã da WNBA pelo Houston Comets entre 1997 e 2000, acredita que teve uma lacuna desde sua geração - ela se aposentou em 2007 - até a atual. Contudo, ela pensa que a atual seleção, sob o comando do técnico José Neto desde maio de 2019, pode ter um bom ciclo com as participações no Mundial de 2022 e nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.




"A gente acredita que essa nova geração possa voltar novamente a ter as glórias que nós tínhamos. Tivemos mesmo uma lacuna entre gerações, mas a gente também não pode ficar pensando no que passou, tem que pensar no que conquistar para frente, e a gente acredita que essa nova geração tem bons caminhos pela frente, caminhos difíceis, mas que podem ser realmente alcançados. Não é fácil, toda jornada, principalmente olímpica, não é fácil, mesmo a jornada mundial, mas acredito que todo incentivo que estão tendo agora possa diminuir essa desigualdade e esta lacuna que ficou entre gerações", diz.

Posteriormente, Janeth considera que o basquete nacional atual tem mais recurso e uma forma diferenciada de visão, mesmo com resultados muito inferiores. "Está bem diferente do que tínhamos e do que tem agora, então a gente espera que elas com esse investimento possam alcançar alguma coisa, porque até falo, imagino nossa geração lá atrás com o investimento que existe hoje. Nossa, é um sonho, melhor nem pensar porque a gente não volta atrás. Mas é fazer com que esses novos Jogos, essa nova geração, pense de um modo diferente e que as coisas são conquistadas com dedicação, com muita humildade, muito trabalho, e só assim vão conseguir um resultado".

Sobre o basquete masculino, Janeth está esperançosa. O basquete brasileiro tem o NBB como principal competição, e a seleção passa por um momento de transição. Agora com Gustavo De Conti como técnico, o time tenta se classificar para o Mundial de 2023, para depois buscar a vaga olímpica em Paris.




"Ficamos tristes, eu principalmente falando da geração anterior do basquete masculino. Se a gente for pensar e ver, os atletas que tínhamos ali, foi uma geração que passou em branco, sem grandes resultados, infelizmente. Mas aí tem um novo desafio, eu acho que o Brasil pode estar no caminho certo, não é difícil, as outras seleções também estão se renovando. Seria interessante se a gente tivesse um ídolo aí para que a gente pudesse inspirar mais crianças, mais jovens, a praticar a modalidade, e isso também ajuda nosso país a ter mais respeito internacionalmente. Enquanto isso não acontece, é acreditar que o trabalho coletivo possa suprir tudo isso e chegar aonde quer, que é classificar para os Jogos Olímpicos, aí depois pode pensar em Campeonato Mundial, Campeonato Pan-Americano, mas estar em Jogos Olímpicos e subir no pódio, isso é para poucos", comentou.