Uma família constrangida e à procura do perdão. Assim estão as irmãs de Jefferson Gonçalves de Oliveira, o homem de 43 anos que na terça-feira ofendeu a jogadora de vôlei bicampeã olímpica Fabiana Claudino, chamando-a de “macaca”. A atitude havia provocado uma onda de indignação que começou com a atleta, tomou as redes sociais, envolveu vários representantes da comunidade esportiva e também sócios e torcedores do Minas. Ontem, uma das irmãs do porteiro, que cometeu a injúria racial durante jogo entre o Minas e o Sesi, na Arena JK, Júlia Allegri, de 48 anos, afirmou que gostaria de pedir desculpas pessoalmente à meio de rede. Em férias em Belo Horizonte, ela trabalha num hospital na Suécia, onde vive e é casada. Júlia revelou que essa não é a primeira vez que o irmão teve esse tipo de conduta.
“Estamos todos chateados. Eu e minhas irmãs estamos com vergonha. Posso dizer que não sabemos onde colocamos a cara. A Fabiana e nenhuma outra atleta merecia isso. Ela é uma atleta maravilhosa, um orgulho para Minas Gerais e o Brasil. Eu e minhas irmãs ficamos surpresas quando vimos a foto do Jefferson no jornal. É inadmissível, abominável fazer isso”, afirma Júlia.
Ela foi além ao perguntar: “Quem pode dizer que é 100% branco nesse nosso país?”. A intenção, agora, é tentar se redimir pela família. “Eu, sinceramente, estou vindo a público para me desculpar com a jogadora e seus pais. Queria me encontrar com ela e pedir desculpas. Não sei o que se passou na cabeça dele. Sou fã de vôlei e tenho essas jogadoras, principalmente a Fabiana, como ídolos. Queria ter essa chance, para diminuir um pouco o sofrimento dela e o nosso”.
Júlia conta que essa não foi a única vez que Jefferson se envolveu em episódios como o da última semana, quando também ameaçou torcedores que o repreenderam e afirmou estar armado. Ele admitiu ter ofendido a atleta, mas negou ter feito insultos racistas. “Na quinta-feira, dois dias depois do que aconteceu no jogo do Minas, fui ao Riachão para ver o jogo entre Cruzeiro e Taubaté. Não sabia que o Jefferson iria. E não é que, no meio da torcida, lá estava ele. Novamente xingando. Chamava todo mundo de ‘gordo’. Eu fui para perto dele e chamei a atenção, para que parasse. Não sei o que passa na cabeça dele”, contou.
Júlia diz que jogava em Contagem, no mesmo ginásio onde o Cruzeiro manda suas partidas, por meio de um projeto de esportes que era mantido pela prefeitura. Posteriormente, defendeu o CRB, de Maceió, Alagoas, e a AABB, de Fortaleza, Ceará.
Fabiana, que num primeiro momento havia reagido com indignação às ofensas racistas e prometido formalizar uma denúncia policial e ir à Justiça, acabou desistindo de prestar queixa contra Jefferson, ainda que pudesse fazê-lo mesmo sem a Polícia Militar ter relatado tal problema no boletim de ocorrência registrado na terça-feira. “Eu não preciso ser respeitada por ser bicampeã olímpica ou por títulos que conquistei, isso é besteira! Eu exijo respeito por ser Fabiana Marcelino Claudino, cidadã, um ser humano”, desabafou a atleta. Seus pais, Vital Claudino e Maria do Carmo Marcelino Claudino, embora traumatizados, também defenderam que ela não denunciasse o homem responsável pelas injúrias raciais.
“Estou vindo a público para me desculpar com a jogadora e seus pais. Queria me encontrar com ela e pedir desculpas”
“Eu e minhas irmãs estamos com vergonha. Posso dizer que não sabemos onde colocamos a cara”
Júlia Allegri, enfermeira, de 48 anos
Superliga
Mesmo com o técnico Marcelo Mendez poupando quatro titulares (o levantador William, o oposto Wallace, o meio de rede Isac e o ponteiro Leal), o Cruzeiro segue insuperável na Superliga Nacional de Vôlei Masculina. Ontem, no ABC Paulista, venceu o São Bernardo por 3 a 1 (25/15, 21/25, 25/19 e 25/23). Wallace, apesar de ter jogado somente nas retas finais dos sets, terminou como maior pontuador do jogo, com 16 pontos. O time celeste lidera, com 50 pontos. Também ontem, o Sesi-SP ganhou do Canoas-RS 3 a 0 (25/19, 25/21 e 27/25). Chegou a 37 pontos.