
O estado do Villa Nova é de penúria. Não existem praticamente móveis no clube. Na sala da presidência, no estadinho do Bonfim (Castor Cifuentes), por exemplo, só restam o grande quadro de madeira com fotos dos campeões de 1933 e dois troféus. O restante foi destruído ou espalhado em espaços sob a arquibancada, atrás de um dos gols. Funcionários contam que a ordem de retirada foi do presidente que renunciou recentemente, Aécio Prates de Araújo, que teria desaparecido, inclusive, com alguns troféus.
O clube existe hoje somente por causa de sua base. O time de juniores é a paixão do Leão. Disputando o hexagonal final do Mineiro da categoria, tem boas chances de terminar na terceira posição e garantir vaga na Copa São Paulo, em janeiro. Mas o espaço para os jovens jogadores é quase inaceitável: um alojamento debaixo da arquibancada atrás de um dos gols. Um dos garotos, o armador Ravelli, de 20 anos, tido como promessa, está sentado no único sofá, estudando a Bíblia, o pé esquerdo envolto em gelo sobre uma cadeira – desapareceram os armários para colocar roupas, uniformes e chuteiras. Estas estão espalhadas pelo chão. Buracos no diminuto espaço abrigam os troféus, na maioria quebrados, que contam a história do time da “terra do ouro”.

BASTIDORES TUMULTUADOS A situação vila-novense não é de hoje. O clube padece de uma sequência inacreditável de renúncias de presidentes. A fase conturbada começou com a primeira saída de Anísio Clemente, em 2000. Jean Carlo Pedrosa assumiu o cargo. O time, que vinha de resultados positivos em estaduais e na Copa do Brasil, começou a cair. Anisinho resolveu retornar. “A dívida ainda era administrável na época. Cumpri meu mandato e consegui uma melhora da situação, mas ela pioraria e muito. Quando voltei, em 2014, para concluir o mandato do Jairo Gomes, a dívida já era de R$ 10 milhões. Hoje, pelo que sei, está acima. É muito difícil, uma verdadeira aventura.”
Depois da gestão de Anizinho, em 2005 e 2006, foi a vez de Nélio Aurélio, que acabou de voltar para tentar salvar o clube. Nessa época, o Villa ganhou a Taça Minas Gerais, sua última conquista. Na sequência, o clube foi presidido por João Bosco. Seu sucessor, o ex-zagueiro Luizinho (titular do Brasil na Copa do Mundo de 1982), renunciou com três meses de mandato. “Eram só problemas e ainda por cima as pessoas falavam mal de mim. Os salários estavam atrasados. Com a história que construí dentro de campo, não podia suportar ver destruído tudo o que foi construído, principalmente porque ninguém queria ajudar”, lembra o antigo jogador.

Anizinho voltou. Para renunciar no ano passado. Aécio Prates de Araújo foi eleito, mas não conseguiu deter a crise, que incluiu até uma greve dos jogadores contra os salários atrasados, antes de partida contra o Caxias-RS, pela Série D. Mais uma renúncia. Com Nélio Aurélio de volta, o Leão ganhou novo estatuto. Agora, o presidente tem responsabilidades perante o clube e a Justiça. O atual comandante luta para reestruturar o Villa.
O ex-armador Deco, que trabalha para o Porto, esteve em Nova Lima para conhecer o sede social, o estádio e o Centro de Treinamentos, no distrito de Honório Bicalho. Mas a situação precária do centenário clube acabou impedindo uma parceria.
DIREITO ADQUIRIDO, MAS... Em 2000, a Câmara Municipal votou e aprovou uma subvenção social em favor do Villa Nova: a partir daquele ano, o clube teria direito a um repasse anual de R$ 2 milhões por parte da Prefeitura Municipal de Nova Lima, mas isso não vem sendo cumprido. Por meio de sua assessoria de imprensa, o prefeito Cássio Magnani Júnior alega que o município passa por momento difícil, com queda na arrecadação, mas garante que, mesmo assim, “vai haver uma ajuda, mesmo que acanhada, para o Villa Nova”.
LEILÃO QUE NÃO AJUDOU O Villa Nova tenta anular o leilão de seu parque aquático, realizado neste semestre. A cotação era de R$ 8 milhões, mas o preço final saiu por apenas R$ 1,5 milhão. O clube propõe na Justiça a criação de um condomínio de credores, que seria ressarcido com parte da arrecadação dos jogos. Os vencedores do leilão não ganharam o terreno, mas sim o direito de exploração do espaço onde está o clube social.