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Centenário embalado pela paixão

Tupi comemora 100 anos e, mesmo com a forte influência das equipes cariocas na cidade, tem cadeira cativa no coração dos juiz-foranos. Aniversário será festejado com amistoso

postado em 26/05/2012 07:53 / atualizado em 26/05/2012 08:17

Jair Amaral/EM/D.A Press
Juiz de Fora –
Botafogo, Flamengo, Fluminense... Quando o papo é futebol, os clubes cariocas costumam dominar a preferência dos juiz-foranos. Não significa, contudo, que um dos maiores patrimônios da cidade de meio milhão de habitantes – separada do Rio de Janeiro por aproximadamente 180 quilômetros – fique de fora do coração de torcedores, dos mais jovens aos idosos. Comemorando 100 anos hoje com um amistoso contra o XV de Novembro, de Rio Novo, o Tupi goza de prestígio inigualável entre os conterrâneos, consequência não apenas do título da Série D do Brasileiro ano passado, que lhe garantiu o acesso à Terceira Divisão deste ano. Ele foi construído ao longo das décadas, graças ao amor dos fãs à camisa alvinegra e a fatos marcantes, como um amistoso com a Seleção Brasileira em Três Rios (RJ), em 1966.

“O centroavante Vicente, que era muito meu amigo, me convidou a ir. Quem fez os três gols da Seleção foi o Alcindo. João Pires descontou para nós”, relembra Jorge Pereira Pinto, o Telê, de 69 anos. Considerado a memória viva do Galo Carijó, o ex-supervisor de futebol do clube atualmente é vizinho do CT do Bairro Santa Terezinha e lamenta que o campo – palco do jogo de aniversário – esteja largado, sem refletores e com as arquibancadas inutilizadas. “O nosso CT poderia ter uma reforma. Até para trazer jogos profissionais e juvenis”, reclama Telê.

A dificuldade de conseguir apoio entre os empresários locais é a principal razão para o estado de conservação do estádio, justifica o presidente Áureo Carneiro Fortuna. Construído em 1932, o Salles de Oliveira mantém intactas a fachada e a grafia utilizada na época, como na palavra “stadium”. “Nossa autoestima é boa, a cidade torce pelo Tupi, mas se tivéssemos novas oportunidades seria muito positivo. Área para a construção de um CT nós já temos”, indica Fortuna, ao se referir a um terreno no Bairro Barreira do Triunfo, que, no entanto, depende de liberação judicial.

Em seu segundo mandato à frente do time, o advogado de 55 anos garante não ter pretensões políticas, diz que a influência dos cariocas não incomoda e que o perfil da torcida tem sido renovado. Para conseguir manter o Tupi, os dirigentes buscam diferentes tipos de parceria. A alimentação dos jogadores e a manutenção do CT, por exemplo, ficam por conta de um supermercado, enquanto o ônibus do clube – um Mercedes-Benz 1113 ano 1980 – foi emprestado por um empresário de BH. “Apesar de tudo, conseguimos manter a base campeã. Nossa expectativa na Série C é de muito otimismo. Estamos credenciados”, ressalta.

ANO DESAFIADOR

Para amenizar o déficit no caixa, Fortuna aposta na torcida: “Precisamos atrair o torcedor para o estádio. Nos jogos mais decisivos, o público aumenta de forma considerável”. Pelo menos por enquanto, a vontade do cartola não poderá ser feita. Com o adiamento das Séries C e D pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJF) em função de pendências judiciais, a estreia contra o Duque de Caxias não tem data. “Sem esse jogo, vamos buscar um amistoso para fechar a programação dos 100 anos”, afirma o técnico Moacir Júnior. O Resende – que recebeu o Tupi em jogo festivo no ano passado – é o adversário mais cotado.

Em sua segundo passagem pelo Tupi (a primeira foi em 2007), o treinador de 45 anos e nascido em Curvelo (Região Central de Minas) vê um Brasileiro desafiador pela frente: “O formato da competição é diferente, mas esperamos nos encaixar”.
O desejo de ver um Tupi vigoroso na Série C é reforçado pelos jovens da torcida organizada Tribo Carijó. Conselheiro do grupo, o adolescente Daniel dos Santos, de 17 anos, está otimista: “Conseguiram manter a base do time campeão, com peças importantes como o goleiro Rodrigo, o atacante Ademílson, e o armador Michel Cury. Como torcedor fanático, espero que o Tupi suba às séries B e A do Nacional. Existem equipes muito competitivas, mas acreditamos no Carijó”. Indagado sobre o motivo de não torcer para time do Rio, ele diz: “Primeiro, porque é o time de Juiz de Fora. Você pode acompanhar as partidas no estádio. Além disso, a gente vive dentro do clube, temos uma relação direta com jogadores e até a diretoria.”

Para o despachante imobiliário Carlos José de Rezende, o Malta, de 44 anos e que tem o Flamengo como primeiro time, faltam mais jogos do Tupi em Juiz de Fora. “Independentemente dos adversários serem mineiros ou cariocas, isso é imprescindível”, afirma. Já Lúcio Rodrigues, de 57, restaurador de móveis, acredita que o Tupi tem condição de ser manter na Série C: “O time é bom e pode se firmar. Por outro lado, falta divulgação e apoio dos empresários locais”.


SAIBA MAIS

Extensa programação

Uma série de eventos e ações até maio de 2013 dará sequência às comemorações do centenário do Tupi. O principal deles será a Comenda Carijó, premiação anual criada em reconhecimento a personalidades com ligação histórica e afetiva com o Tupi. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, uma sessão solene homenageará o clube em 11 de junho. Além disso haverá um amistoso contra uma grande equipe – Santos e Vasco vêm sendo sondados –,
a eleição do Esquadrão do Século, exposições itinerantes de objetos históricos, publicação de catálogo com todas as taças conquistadas pelo Galo da Zona da Mata, o lançamento da revista do centenário e de um livro de crônicas sobre o time.