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Entrevista com Cuca: reflexões sobre a carreira, Mundial de Clubes e renovação

Confira o que o treinador do Atlético falou ao Superesportes na Cidade do Galo

postado em 31/10/2013 07:35 / atualizado em 30/10/2013 19:47

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Em mais de dois anos de Atlético, Cuca continua o mesmo: sério, brincalhão nas horas oportunas, preocupado com os adversários e comprometido com o trabalho. A história no Galo começou com a missão de não cair para a Série B e hoje os objetivos são mais nobres. Após o título da Libertadores, tem o Mundial, no Marrocos, em dezembro, pela frente.
 
Em entrevista ao Estado de Minas e ao portal Superesportes, Cuca reflete sobre a carreira, fala sobre testes no time para a reta final do Brasileirão, o Monterrey, o Bayern e a permanência em 2014.
 
Você é muito estudioso, vive o futebol, mora na Cidade do Galo. Tem algum momento do dia que você não está voltado para o futebol? O que costuma fazer?
Gosto de dar uma saidinha, uma pescada. Eu, Carlos Alberto (Isidoro, supervisor de futebol), os seguranças. Gosto de jogar uma tranquinha (jogo de cartas) online, que é bom. E ver jogo, que tem na televisão toda hora.
 
Vídeo game também é um passatempo?
Dei um tempinho no vídeo game. Mas gosto de jogos de ação, de passar de fase, de tiro.


 
O que é o mais gostoso do futebol?
Tem muita coisa que deixa feliz e tem muita coisa que deixa puto também. O que me deixa mais feliz é quando o seu produto aparece. Você vê. Não importa se os outros não vêem. Você vê uma jogada elaborada e executada no jogo, quando acaba em gol. São cinco, seis cabeças pensando ao mesmo tempo em um lance. É passar para o jogador a jogada ofensiva, defensiva. Quando você consegue criar um grupo. É tão difícil criar como a gente tem hoje. Demora, é custoso, às vezes você nem consegue.
 
E o pior do futebol?
O ruim é quando as coisas não dão certo. Você está em um dia ruim. Por uma razão ou outra as coisas não dão certo, você busca o motivo para que não haja a repetição. E o pior de tudo é quando acaba um vinculo de um profissional com um clube. É a pior hora que tem. Você se identifica muito, faz do clube a sua vida. Quando vai embora, deixa um pouquinho da sua vida lá.
 
Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Taticamente você sempre se destacou na carreira de técnico, com equipes muito elogiadas. Qual foi o aspecto que você amadureceu para, nos últimos anos, ter se consolidado inclusive com um grande título?

Foi muita coisa. Tá louco! Tive tantos erros no passado. Lógico que é erro que tinha que ser cometido porque faz parte da evolução do ser humano, errar e aprender. O principal é lidar com jogador, com ser humano. Tive dificuldade em lidar com alguns jogadores, tive problema que hoje não teria. O tempo ensina a ter mais paciência, administrar melhor. Conhecer mais aquele jogador que você precisa conversar perante todos, aquele que precisa ser de forma mais isolada. Isso automaticamente, quando você é mais novo, você não sabe. Esse amadurecimento me ajudou muito.
 
Tem alguma história que você pode contar dentro desse amadurecimento?
Tive problema com Rogério Ceni no São Paulo. Não era problema meu não, era com um auxiliar. Tomei as dores e eu estava errado no processo. Hoje você vê que estava errado. Hoje eu agiria de forma diferente. Não tenho nada contra o Rogério, que é um profissional maravilhoso. O próprio Adriano no Flamengo. Ainda que nesse caso eu não estivesse errado, minha tolerância foi pequena com ele e poderia e deveria ter sido maior.
 
E as histórias boas com jogadores que marcam a carreira?
São tantas. Vi esse menino Pierre há 10, 11 anos. Vi ele pelo Ituano, gostei e levei para o Paraná Clube. A gente vê o crescimento dele e é muito bacana. A gente vê o Luan hoje. Jorge Henrique, Joílson, Renato Silva, que fez gol de título pelo Botafogo. Os meninos que levei do Goiás para o São Paulo, todos eles vingando. Meninos que vi no Fluminense e deram conta em um momento crucial da história do clube. São meninos que a gente tem feito. Bernard, Lucas Cândido. Quando a gente consegue formar esses profissionais e ver o futuro bom é o sucesso da carreira da gente. Ainda que não tenha o resultado e você não esteja mais no clube, é o prazer maior que a gente tem.
 
O que mudou no Cuca após o título da Libertadores?
Mudou nada. É a mesma coisa, faço as mesmas coisas, é tudo igual. Lógico que a gente fica um pouco mais tranquilo. Mas a responsabilidade aumenta. Quando você está em clube ganhador, como o Atlético, tem que ganhar. Se você perde três ou quatro partidas, o mesmo torcedor que te aplaude, vai pedir a sua saída, ficar bravo. Então você tem que estar preparado sempre para ganhar. E o final do ano está aí. São batalhas que vão exigir muito da gente e precisamos estar preparados.


 
Na semifinal do Mundial, os brasileiros costumam entrar como favoritos. Como você tem trabalhado para que isso não seja uma armadilha?
Acho que o adversário será o time mexicano, o Monterrey. A gente já olhou o plantel, os jogadores. É jogo duro, haja vista o Tijuana. É mais ou menos do mesmo naipe. É bom pegar jogo duro. Se você pega jogo menos conhecido, pode ser pior, sua responsabilidade é muito maior e você não se prepara como deveria. Então a gente vai preparar muito bem. Se você passa bem, pega moral.
 
Os jogos contra o Tijuana servem de lição para a semifinal?
Serve de exemplo, porque é desse nível de time que vamos jogar.
 
Você tem estudado muito o Bayern. O que mudou com a chegada do Guardiola? Qual a principal característica do técnico espanhol?
O Guardiola tem uma maneira de trabalhar que ele gosta de explorar o potencial dos jogadores. Alguns mudaram de posição. Lahm é segundo volante pela direita, Schweinsteiger é primeiro volante. Você vê os zagueiros no mano atrás, é estratégia dele para ganhar um homem a mais no meio. Ele tem a confiança que são jogadores bons e rápidos. Pelo lado, Alaba e Rafinha chegam muito à frente. E é inegável você falar de Robben, Ribery, Kroos, Müller. As opções que ele tem são muitas. O que temos que fazer é passar para os jogadores tudo o que a gente puder. Mas não pensar só em marcar, tem de ter ambição de jogar também. Vamos jogar do jeito que jogamos até aqui.
 
Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Quantas vezes por dia você pensa no Bayern?

Eu tenho pensado no Campeonato Brasileiro, em fazer o nosso melhor. Sábado passado não fiquei feliz pelo resultado. Depois eu vi o jogo e nós não jogamos mal de novo. Jogamos melhor que o Botafogo, finalizamos 17 vezes. No calor do jogo de querer ganhar, você vê coisa que não existe. Vou dar umas mexidas no time para que haja uma disputa de posição, pôr jogadores que eu quero ver jogando para ele ir sentindo o time e para ser observação para o futuro, já pensando na volta do Ronaldo.
 
Você pode buscar alguma alternativa para uma possibilidade de o Fernandinho não poder jogar no Mundial?
Estou confiante de que ele vai jogar. Muito confiante em cima dele. Não estou confiante em cima do Emerson e Dátolo, mas dele, muito confiante.
 
Você vai fazer alguns testes, mas tem um time-base na cabeça para o Mundial?
Eu tenho, mas vamos ver as coisas. Entra um jogador sábado e come a bola. Não tem como tirar. Ele vai se auto escalar. A cada 10, 15 minutos, entra e dá o máximo. Torcedor vê, imprensa vê.
 
Você pensa na possibilidade de Ronaldinho não poder jogar o Mundial?
Ele é indiscutível, indispensável, ponto. A gente está jogando mal sem ele? Não. Ganhamos do Cruzeiro, Coritiba, Vasco, Santos. Jogamos bem sem ele, com Tardelli nessa função. Sábado, não será o Tardelli nessa função. Faremos uma experiência que não vou falar. A gente tem alternativas boas. Tomara que ele (Ronaldinho) jogue. A gente espera por isso. Mas, se não jogar, estamos preparados também.


 
Dentro do planejamento para o Mundial, o Atlético deve fazer algum jogo-treino?
Não tem jogo-treino. Tínhamos pensando em fazer alguma coisa até em Portugal, mas não tem como fazer. Lá é treinamento e o último jogo é aqui contra o Vitória.
 
O Bayern é muito favorito?
É inquestionável que é favorito. Mas não é imbatível, de forma nenhuma.
 
O Atlético tem apostado muito em planejamento nos últimos anos. Nesse contexto, você já negocia a renovação contratual com o clube?
Quando cheguei, foi muito trabalhoso definir um time e ter certeza que é aquele time. Em um grupo, você tem que definir titular e reserva, e cada um luta por uma coisa. Hoje conseguimos fazer isso. Cada um sabe para o que luta. Foi uma mudança de foco quase que total. No ano que vem, o Atlético com o Cuca ou sem o Cuca, ele está organizado. Tem comissão técnica permanente, elenco com 95% já com contrato para ano que vem, mas tem que dar uma mexida. Tem jogadores que em uma análise técnica, de repente, saiam e outros podem chegar para um upgrade.
 
Por conta do Mundial, então, renovação não é assunto para agora?
Não é assunto para o momento, sem dúvida nenhuma. O negócio é só pensar no final do ano, nos dias 18 e 21, aliado a esses sete jogos que são preparatórios.
 
É utopia pensar, dentro do conceito do futebol brasileiro, que um técnico possa ficar por muitos anos em um clube, como acontece no exterior?
É utopia. Daí a pouco fica, perde cinco, seis e sai. É assim que funciona. Como Tite ficou no Corinthians três anos ou três e pouco, já tem que tirar o chapéu, porque é quase uma anormalidade.